Jornalismo regional e comunidade académica ficam mais pobres

Até há bem pouco tempo, José Geraldes falava, aos alunos de Ciências da Comunicação da UBI, nas suas três paixões: o Jornalismo, o Sacerdócio, e o Ensino.
É com profundo pesar que a comunidade académica da Universidade da Beira Interior registou o seu falecimento, aos 71 anos de idade.
Uma figura incontornável do jornalismo regional, quer pela sua função de Chefe de Redacção do semanário Notícias da Covilhã, entre 1972 e 1978, quer pela de Director, desde 1988. Muito havia para dizer do seu papel activo nesta área, onde, ao longo de mais de quatro décadas, defendeu as causas regionais, através da imprensa escrita. O seu desaparecimento deixa mais pobre não só toda a classe, como também toda a comunidade. Uma figura exemplar, de forte empenho cívico que muitos lembram, não só do sacerdócio, mas também do ensino. A sua estreita ligação à comunidade covilhanense vem de há muito. José Geraldes, um beirão nascido em Casegas, freguesia do concelho da Covilhã, desempenhou funções e estudou em vários pontos da Europa, mas voltou sempre à sua terra natal. Desde Paris, onde se licenciou em Ciências da Comunicação, passando por Lovaina, onde se especializou em Jornalismo e Comunicação, muitos foram os locais que pontuaram o seu percurso de vida.
Mas, em boa hora, a Universidade da Beira Interior soube reconhecer o seu mérito e a sua competência profissional. Desde 1989 que José Geraldes colaborava com a instituição, o que fez dele um dos mais antigos docentes. Numa primeira fase, ligado ao curso de Comunicação Social e, mais recentemente, como professor de diversas cadeiras práticas na licenciatura de Ciências da Comunicação.
José Geraldes ficará, com toda a certeza, na memória de centenas de alunos que dele receberam algumas das bases das suas profissões. Na memória colectiva da Universidade da Beira Interior está também a sua forma de entrega à docência, ao sentido prático da ligação com todos os membros desta instituição e a sua inteira dedicação ao jornalismo.
Os milhões de palavras por si escritas e transmitidas através dos jornais, através da sua coluna editorial que todas as semanas abria o Notícias da Covilhã, fazem já parte de um património histórico que muito engrandece a sua figura. Como docente, como profissional da academia covilhanense, é de sublinhar a sua presença no seio desta instituição e nas actividades promovidas na sua área.
Defensor da capacidade que os jornais têm para moldar vontades, para formar pessoas, para melhorar a comunidade, José Geraldes colocou-se sempre ao lado da imprensa regional, na sua ligação ao público, na sua proximidade com o leitor, mas também com as suas causas, com as suas necessidades. À função de jornalista e docente juntou também a de padre, desempenhando o cargo de arcipreste da Covilhã. A sua presença fica na vasta obra que agora nos deixa a todos.
A Universidade da Beira Interior guardará, para sempre, a memória do Doutor José Geraldes, homem de fé e de ciência, com um percurso ímpar em ambos os domínios. Todos quantos o conheceram e que com ele privaram recordarão, sem dúvida, o seu rigor e exigência, mas também a sua diligência e humanismo. O seu trabalho incansável em prol desta instituição e os ensinamentos que inspiraram os muitos alunos para cuja formação contribuiu e que quotidianamente aplicam agora na sua vida profissional, merecem o nosso profundo reconhecimento e elevada consideração. As palavras que com rara mestria usou para pregar, ensinar e escrever continuarão a ecoar nas nossas mentes e a suscitar a nossa reflexão cada vez que relermos os inúmeros textos que produziu e que constituem o seu inigualável legado.

João Queiroz - Reitor da Universidade da Beira Interior