As mudanças da língua
Nas suas provas de agregação, Paulo Osório, docente da UBI, quis demonstrar algumas das razões pelas quais o sistema linguístico não é fechado. A interacção com diversos factores sociais, históricos e outros faz com a língua vá sofrendo alterações.
> Eduardo AlvesPaulo José Tente da Rocha Santos Osório, docente do Departamento de Letras da UBI, apresentou as suas provas de agregação na passada semana. Um evento que incidiu, acima de tudo, na apresentação de uma lição intitulada “A mudança linguística como problema: Na pista de Eugénio Coseriu”.
O que se pretendeu demonstrar nesta lição “foi a questão da mudança linguística”, diz o autor. O mesmo começa por explicar “como é que teoricamente foram existindo várias perspectivas que foram considerando que a língua é um objecto que muda”. No fundo, esta lição, a primeira na área da linguística a ser defendida na UBI, tenta fazer foi uma panorâmica que vai desde a antiguidade clássica até, sensivelmente, aos inícios do século XX, sobre esta temática. “Na minha fundamentação teórica segui-me por alguns autores que defendem que as línguas mudam, não só pelo efeito de mutação da própria língua, mas também por factores externos à língua, aquilo que chamavam factores sócio-históricos”, acrescenta Osório.
Segundo essas fontes, “a língua enquanto objecto de interacção verbal, enquanto função individual de uma pessoa, tem forças externas ao sistema”. Por isso mesmo, o que o autor tentou demonstrar nesta lição, “é que este tipo de estudo ficou durante muito tempo relegado para um segundo plano por causa da perspectiva saussuriana. Saussure deu muito destaque à sincronia, em detrimento da diacronia”. Osório garante que “o que interessava, para ele, era o sistema num dado momento, e a evolução das línguas era algo posto de lado”.
Por isso mesmo, “acabei por analisar o trabalho do linguista alemão Eugénio Coseriu, que estudou na Universidade de Tübingen, na Alemanha”. É na instituição germânica que se encontra todo o espólio de Coseriu “e foi necessário analisar toda a sua obra porque muitos dos seus textos nunca foram publicados”. “Tive de estudar todos os manuscritos e reconstruir, de certo modo, o pensamento deste investigador”, acrescenta Paulo Osório.
O docente da UBI acrescenta ainda que “em linguística o confronto teórico é algo ‘ainda fácil’, porque existem muitas variantes de abordagem a esta área. Veja-se o facto de existir sobretudo três perspectivas em linguística, a saussuriana, a generativa, do Chomsky, e uma outra, que é mais eclética e que vai buscar as abordagens sociais para a língua”.
As provas deram nota positiva ao docente da UBI, atribuída por um júri constituído por Jorge Manuel Morais Gomes Barbosa, professor catedrático jubilado da Universidade de Coimbra, Àngel Marcos Dios, professor catedrático da Facultad de Filologia da Universidad de Salamanca, Maria Teresa Rijo Fonseca Lino, professora catedrática da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, José Carlos Gaspar Venâncio, professor catedrático da Universidade da Beira Interior, Carlos da Costa Assunção, professor catedrático da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e António dos Santos Pereira, professor catedrático da Universidade da Beira Interior.
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