A força do “quinto poder”
Aferir a dimensão do poder que os cidadãos têm de influenciar o jornalismo, através das novas ferramentas de comunicação foi o principal tema da lição apresentada por Paulo Serra nas suas provas de agregação, na UBI.
> Eduardo AlvesHá muito que a imprensa é conhecida como o “Quarto Poder”, mas também, como forma de vigiar, sobretudo o sistema e os actores políticos. Contudo, a agenda noticiosa e a “industrialização” deste sector levou ao que os académicos classificam de “afastamento” do jornalismo para com os seus leitores.
Mas a chegada e disseminação de novas ferramentas comunicacionais veio alterar este cenário. Foi precisamente sobre tudo isto que Joaquim Paulo Serra, docente e presidente da Faculdade de Artes e Letras, falou durante as suas provas de agregação à UBI.
Numa lição intitulada “Internet e mediamorfose – o impacto dos blogs nos jornais”, Serra pretendeu “estudar o impacto que neste momento está a haver, nos jornais, através de ferramentas da Web 2.0, nomeadamente, os blogues”.
Segundo a perspectiva analítica do docente da UBI, “aquilo que está demonstrado é que os blogues são extremamente importantes em termos de obrigar o próprio jornalismo a verificar mais as coisas, a procurar novas fontes, novos enquadramentos e sobretudo, a deixar de parte, aquilo que se costuma chamar o jornalismo oficioso. Um tipo de jornalismo que passa pelo fornecimento, ou de comunicados oficiais, ou de informações que saem muito adequadamente dos gabinetes ministeriais e que chegam aos jornais como se fossem a verdade última e absoluta”
Nesse sentido, Paulo Serra acredita que “os blogues vêm, de certa maneira, pôr o jornalismo actual em causa e obrigar os jornais a trabalhar mais”. Por isso mesmo se começa hoje a falar em “quinto poder, até porque, uma das funções apontadas aos blogues, é precisamente a da vigilância do jornalismo”, acrescenta o docente. Para reforçar esta ideia, Serra recorre a outros académicos, como José Luis Orihuela, um dos grandes especialistas em blogues, “que considera que a principal função destes é constituírem um quinto poder que vigia o quarto poder, associado ao jornalismo, portanto, uma função de watchmedia. Mas também verificar se os jornais estão ou não a desempenhar o seu papel”.
Outro dos aspectos evidenciados ao longo da sua lição é o da “participação directa dos cidadãos através destas novas ferramentas comunicacionais”. O docente da UBI lembra que “os jornais sempre tentaram que os cidadãos participassem. De uma forma muito limitada no caso dos jornais impressos, através do correio dos leitores. De uma forma mais alargada, no jornalismo online, com o caso dos comentários, mas estes nunca tiveram grande impacto. Isto porque, os comentários são ordenados por chegada e quando uns aparecem, os anteriores ficam ocultos”. Mas já no caso dos blogues, “o que está a acontecer, é que; ou os jornais são obrigados a citar blogues, coisa que hoje já se começa a tornar frequente quando lemos um jornal, ou os próprios jornais incorporaram os blogues”. Neste caso, o autor desta lição utiliza como exemplo, jornais como o Expresso, o Público ou o Sol, “onde temos já ligações para blogues. No caso do Sol, vemos que aquilo que eram colunas de opinião, hoje são espaços ocupados por blogues, com a possibilidade do leitor deixar o seu comentário e ponto de vista, participar e tornar visível a sua opinião”. Um fenómeno que, na óptica de Serra “introduz-se uma nova possibilidade dos cidadãos participarem nos próprios jornais e interagirem com estes”.
As provas de obtenção do título académico de agregado decorreram no dia 29 de Junho, com a “Apresentação, apreciação e discussão do relatório para a unidade curricular de “Teoria da Comunicação” e “Apreciação e discussão do curriculum vitae” feitas pelos professores António Carreto Fidalgo e José Nunes Esteves Rei. No dia 30 de Junho, decorreu a “Apresentação e discussão do seminário ou lição subordinada ao tema “Internet e mediamorfose: impacto dos blogs nos jornais”, sendo arguente o professor Aníbal Augusto Alves.
O júri das referidas provas foi constituído por Aníbal Augusto Alves, professor catedrático da Universidade do Minho, Nelson Traquina, professor catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Moisés Adão de Lemos Martins, professor catedrático da Universidade do Minho, António Carreto Fidalgo, professor catedrático da Universidade da Beira Interior, José Nunes Esteves Rei, professor catedrático da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e António dos Santos Pereira, professor catedrático da Universidade da Beira Interior.
> filosofia @ hotveryhot . com em 2009-07-08 18:54:15
Muito bem... Grande Serra
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