Mais água no regadio
Foi em dia chuvoso que as comportas de abastecimento do canal condutor geral, pertencentes ao Regadio da Cova da Beira foram abertas. José Sócrates veio de Lisboa até Caria anunciar que a conclusão desta obra está já à vista.
> Eduardo Alves“Há mais de 50 anos que esta obra está por acabar”. Quem o afirma é o próprio primeiro-ministro português, José Sócrates. Em visita à região que o viu nascer, o covilhanense que lidera a o governo português veio inaugurar mais uma fase de construção do Regadio da Cova da Beira e utilização de água na agricultura local.
Uma obra que “desafiou a paciência de todos” acrescenta ainda o socialista, que se lembra de “sempre ter lutado pela conclusão deste projecto”. Mais de meio século depois, parece ser agora que o regadio vai finalmente estar concluído. O primeiro-ministro assegurou que todas as obras vão estar no terreno até final do ano. Depois de ter adjudicado a construção dos blocos da Covilhã e do Fundão, fica agora a faltar a secção da Fatela para finalizar todo o projecto.
António Gomes, presidente da Associação de Regantes, é um dos homens que melhor conhece o regadio. Para além de todos os dias encaminhar as águas que circulam nesta grande rede de canais, com mais de 500 quilómetros, representa aqueles a quem mais lhes interessa a conclusão da obra. A sua voz rouca, mas firme dá som às palavras de muitos. Tantos quantos queriam já ter visto esta obra terminada há décadas. Os cabelos brancos de António Gomes não resultaram só dos largos anos a amanhar as terras da Meimoa, alguns, com toda a certeza, nasceram com os problemas que o regadio já deu.
As promessas políticas já nada dizem a este agricultor. Os governos passam pelo regadio, tal como as cerimónias pomposas. Mas ao que parece, “desta é de vez”, acrescentou ontem, no reservatório do Monte do Bispo, em Belmonte.
Questionado sobre a utilidade desta autêntica “auto-estrada” da água, o presidente da Associação de Regantes, o mesmo diz que “ainda hoje existem muitos agricultores, com idades avançadas, que sobrevivem por causa daquilo que tiram das suas terras”. Os políticos, todavia, vão buscar as palavras às folhas de papel e aos discursos de circunstância para pedir “modernização” e “emparcelamento”. Conceitos que andam nas águas do regadio há décadas, mas que estas parecem arrastar para longe. As propriedades agrícolas são muito pequenas e a idade de quem faz vida desta actividade parece já não se compadecer com grande aventuras. Contudo, políticos e regantes esperam que “o regadio seja terminado e bem aproveitado”. Mais de 700 agricultores vão beneficiar destas linhas de água que se espalham por cerca de 500 quilómetros. O orçamento de uma das obras mais demoradas do País ronda já os 322 milhões de euros e o regadio passa a ser o segundo maior aproveitamento hidroagrícola do País, a seguir ao do Alqueva.
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