Trajados a rigor
Enraizado na tradição e símbolo da universidade, o traje académico é um dos elementos que identifica e diferencia os diferentes estabelecimentos de ensino superior. Envergado várias vezes em diferentes celebrações solenes, poucos são os que conhecem o seu significado e a simbologia que carrega.
> Ana CamboaNo passado dia 19, aquando da cerimónia de tomada de posse do reitor eleito, vários foram os doutorados que exibiram o traje académico das universidades às quais estão vinculados ou onde concluíram o seu doutoramento. Presente em todos os actos e cerimónias solenes, o traje académico é indispensável para professores e investigadores cujo vínculo à universidade é de carácter formal e plurianual. A “toga” ou “beca”, como também é conhecido o traje académico, simboliza a maturidade de quem a veste. Ao traje juntam-se símbolos, distinções e insígnias. Em conjunto são elementos que estão na base da celebração deste tipo de cerimónias.
O traje Académico da Universidade da Beira Interior foi idealizado e concebido pelo alfaiate Fernando Almeida. Confeccionado em tecido preto, o traje é constituído por três pregas inteiriças na frente e nas costas, que vão até à cintura e por uma faixa de cetim preto brilhante (também na cintura). Faz ainda parte do traje o epitógio, uma faixa em veludo (exterior) e cetim (interior). O epitógio possui, na parte detrás um decote arredondado com costura, fazendo um bico sobre o meio das costas. A cor do epitógio corresponde à da área do doutoramento, pelo que as cores diferem de acordo com as unidades orgânicas a que se encontrem afectos os doutorados. Na UBI, o amarelo é a cor da Faculdade de Ciências da Saúde, o azul-cobalto das Artes e Letras, o vermelho rubi das Ciências Sociais e Humanas, o azul-claro das Ciências e a cor de tijolo das Engenharias. Suspensa no epitógio fica uma medalha de formato oval. Esta medalha, que pode ser cunhada em ouro, prata ou bronze, tem na frente a emblemática com o brasão de armas da Universidade e na margem a divisa da Instituição, “Scientia Et Labore Altiora Petimus”, que significa “Com conhecimento e trabalho aspiramos às coisas mais elevadas”. As mangas da toga são em forma de sino com boca forrada de cetim azul-cobalto, cor da universidade.
Na cabeça, a barretina, um tecido composto de um por cento de algodão com poliéster, que se constitui como uma das principais insígnias. A barretina tem a configuração de um tronco de cone invertido e encontra-se forrada, na parte exterior, de tecido preto igual ao do traje. A base da barretina apresenta uma barra lisa de cetim preto brilhante idêntico ao da faixa. Já o topo tem ao centro uma roseta – pom-pom – aveludada.
Por detrás de cada traje estão “muitas horas de trabalho escondidas”, como refere, a costureira de togas, Lucinda Matias. Entre tecidos, linhas, agulhas e máquinas de costura, Lucinda dedica-se à confecção destes trajes há já 12 anos. “Depois de tirar as medidas, faz-se o corte, forra-se e montam-se as peças. Feita a prova, começamos a confecção da parte de baixo do corpo. É preciso vincar as pregas e aplicar o bolso. Depois compomos tudo no ferro”, explica Lucinda. É no Atelier de Têxtil da UBI que a costureira passa os dias, dedicando várias horas à confecção dos trajes. “Confeccionar estes trajes demora algum tempo, é muito trabalhoso. Há muitas peças que são cosidas à mão, por exemplo. O epitógio e a barretina também são praticamente todos manuais”, partilha a costureira. Num trabalho levado a cabo por apenas duas pessoas, existem fases mais trabalhosas que fazem da confecção um processo mais moroso. “A faixa sob a cintura, as mangas e as pregas que caem sobre o ombro são as etapas que dão mais trabalho. A barretina também é praticamente toda manual, pelo que exige muito trabalho. Qualquer erro pode alterar completamente o seu design”, confessa. Tais obstáculos exigem um esforço redobrado, mas não impedem que o traje académico fique terminado em apenas duas semanas.
Uma vez finalizado, o traje está pronto para ser usado em celebrações solenes idênticas à que teve lugar no dia 19 deste mês. Nelas, os doutores da instituição e os convidados alinham num cortejo impondo as respectivas insígnias.
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