Teatro das Beiras no Festival das Companhias Descentralizadas
Campo Benfeito acolheu mais um festival de teatro onde os grupos de actores mostraram a sua indignação pela ausência da Direcção Geral de Artes e recomendaram algumas medidas aos decisores políticos.
> UrbiO III Festival das Companhias Descentralizadas, organizado pelo Teatro de Montemuro, decorreu na passada semana em Campo Benfeito. Um evento que contou com a participação de mais cinco companhias de teatro profissional que integram a Plataforma das Companhias: A Escola da Noite (Coimbra), ACTA (Algarve), Centro Dramático de Évora, Companhia de Teatro de Braga e Teatro das Beiras (Covilhã).
Envolvendo directamente mais de 60 pessoas, o programa do Festival incluiu a apresentação de seis espectáculos (um por cada companhia), um workshop de escrita criativa com o dramaturgo Abel Neves, um workshop de teatro a cargo do grupo anfitrião, um debate sobre “O teatro na descentralização”, que teve a presença do Director Regional da Cultura do Centro e ainda, contactos informais com uma centenária associação cultural do concelho de Castro Daire, a propósito do trabalho artístico com jovens. As iniciativas espalharam-se por quatro localidades de dois concelhos da região e integraram a programação de três salas: Espaço Montemuro, Auditório Municipal de Castro Daire e Teatro Ribeiro Conceição. Os seis espectáculos apresentados no âmbito do festival assistiram cerca de 700 pessoas.
A ideia do Festival das Companhias surgiu em 2005, na sequência dos contactos que vinham sendo estabelecidos entre estas seis companhias, organizadas informalmente numa plataforma de debate, intercâmbio e colaboração. Para além de potenciar o conhecimento do trabalho que as suas congéneres vão realizando, o evento permite, de acordo com a lógica de rotatividade que vem seguindo, que as companhias de cada cidade apresentem aos seus públicos, de uma forma organizada, os espectáculos das estruturas de criação que com elas partilham este projecto.
Entre Faro (2005), Braga (2008) e agora Montemuro, o modelo do festival “tem vindo a ser aperfeiçoado, nomeadamente com a introdução de iniciativas paralelas à apresentação dos espectáculos, quer no âmbito da formação, quer aproveitando estas oportunidades para suscitar momentos de reflexão sobre áreas directamente relacionadas com o trabalho dos grupos – ao nível artístico e em matéria de política cultural”, dizem os promotores. Simultaneamente, “tem vindo a ser aumentado o tempo de encontro efectivo entre os diversos elementos que compõem cada companhia, de modo a fomentar um verdadeiro entrosamento entre os grupos”, acrescentam.
Em contra-corrente com o balanço “extremamente positivo que fazemos do ponto de vista do fortalecimento das relações entre as companhias, esta edição do festival é, em si mesma, um exemplo dessa desconsideração pelo nosso trabalho”, explicam os promotores. Quando, no verão passado, “denunciámos publicamente a ausência de discussão pública sobre a alteração às normas do financiamento público da criação artística, a Direcção Geral das Artes comprometeu-se a debater connosco e com outras estruturas a temática da descentralização, ainda que apenas depois de concluído o processo dos concursos que teriam que entrar em funcionamento rapidamente”. E foi precisamente isso “que quisemos fazer, no âmbito do festival, convidando a DGA para estar presente no debate que organizámos e que foi aberto a todas as estruturas de criação do País. A representação oficial deste organismo foi sendo delegada em postos inferiores da hierarquia até acabar por não existir, o que consideramos inaceitável”, rematam.
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