Os meios da persuasão
A UBI foi, mais uma vez, palco para as Jornadas Retórica e Mediatização. Nesta terceira edição, destaque para o trabalho dos investigadores internacionais que vieram á Covilhã abordar a temática da persuasão na Imprensa.
> Eduardo AlvesUm leque de prestigiados investigadores e profissionais da área da comunicação deu forma à terceira edição das Jornadas Retórica e Mediatização. Um evento organizado pelo Laboratório de Comunicação e Conteúdos Online (Labcom).
Analisar o papel dos media na formação de uma opinião pública e descortinar “quais os segredos e os métodos que os agentes sociais utilizam para passar as suas mensagens”, foi a temática central deste dia de trabalhos. Uma jornada que teve a participação de, entre outras figuras de relevo na área, Ana Maria Palácios. Esta docente e investigadora da Faculdade de Comunicação, da Universidade Federal da Bahia, no Brasil, veio à Covilhã para falar numa das suas mais recentes áreas de estudo. Através da análise dos media e dos vários discursos jornalísticos, a investigadora tem tentado compreender “a forma como é feita a passagem da mensagem, sobretudo de instituições públicas e do papel social destas”. Um trabalho que pretende, acima de tudo “diferenciar o que tem sido propaganda ou o que tem sido mensagem publicitária”.
No entender desta docente, cada vez mais existe um conjunto de mecanismos que permitem aos vários agentes, fazer passar a sua mensagem, da forma que pretendem. Uma prática que vai “subverter e persuadir, quer o jornalista, quer o seu público”. Nesse sentido, “torna-se fundamental conseguir identificar e separar os vários discursos”, tudo para que “exista uma verdadeira mediação entre as partes e não uma persuasão”.
Ana Maria Palacios deslocou-se à UBI, também com o intuito “de ficar a conhecer melhor a instituição e os trabalhos que estão aqui a serem desenvolvidos”. A investigadora confessou ao Urbi que “se obtiver luz verde do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, onde submeti um pedido de bolsa para fazer um trabalho de investigação”, o local escolhido para desenvolvê-lo “seria aqui na Covilhã, durante um ano”. Ana Maria Palacios adianta ainda que “este será um trabalho que encaro como uma especificidade de todo um percurso científico que venho desenvolvendo”. Segundo a investigadora, trata-se de um trabalho mais voltado para uma distinção, “algo que tenho feito entre o que se considera a prática publicitária e o que se considera a prática da propaganda”. Neste momento, o seu interesse científico está mais voltado para a prática da propaganda “e tentar compreendê-la como uma prática estratégica de sensibilização social”. Neste caso, o interesse da pesquisa recai sobre campanhas voltadas para públicos idosos, campanhas que são de sensibilização, de prevenção e sempre dentro de uma perspectiva de tratar algumas causas sociais a partir de organismos governamentais. A investigação passará também por comparar o trabalho que é feito cá em Portugal, com aquele que é feito, no Brasil.
Também presente nestas jornadas esteve Bernardo Diáz Nosty, da Universidade de Málaga. Um dos principais nomes do estudo do Jornalismo e das Ciências da Comunicação, na Península Ibérica, falou também sobre a forma como “os meios podem ou não influenciar as opiniões”. O professor espanhol veio à UBI falar do problema do Aquecimento Global, do Meio Ambiente e dos elementos que intervêm na construção de um cenário, para este campo, através dos meios de comunicação. Segundo Diáz Nosty, existem três vertentes que interagem neste campo, “nomeadamente as empresas contaminantes que não têm muito interesse que a sua posição seja conhecida, os jornalistas e a forma como estes transmitem as informações e também aos políticos e as estratégias utilizadas por estes para legitimar a sua posição ideológica”. Daquilo que tem analisado “no sector climático não são os políticos, os que dizem existir um problema ecológico e nem são os jornalistas, os que descobrem esse problema”.
Há todo um painel de cientistas de referências, “sobretudo em organizações como as Nações Unidas que dizem que se está a verificar um processo de aquecimento global e que é necessário estabelecer medidas correctivas para evitar desastres naturais”. Mas em todo o caso, “os políticos têm de tomar medidas para se resolver o problema e os jornalistas têm de saber transmitir a mensagem dos científicos”. Diáz Nosty aponta um problema importante na transmissão de conhecimentos científicos para as notícias. Isto porque, “os cientistas desconfiam dos jornalistas porque geralmente, o jornalista transmite, de forma sensacionalista, a realidade de um problema e preocupa-se com os aspectos epidérmicos da ciência, porque são os mais chamativos, mas não analisa, de forma profunda, os problemas das alterações climáticas”. Por outro lado, “há todo um interesse das empresas contaminantes, que são muitas, para lançar outras teorias que vão no sentido de dizer que estes são problemas naturais e outros e não são provocados pelo homem”. Neste domínio, uma das principais conclusões do encontro passou por lembrar que o papel do jornalista deve ser o de aproximar-se com o conhecimento científico e aprofundar mais as suas fontes.
Para além destes investigadores, participaram também no encontro, J. Lampreia, o primeiro lobista português acreditado no Parlamento Europeu, Elena Fernández Blanco e Irene Martín Martín, da Universidade Pontíficia de Salamanca, que falaram sobre a indústria publicitária e a das relações públicas em Castilla e León. Também Bernardo Gómez e Bella Palomo, da Universidade de Málaga, Paulo Serra, Eduardo Camilo, Celia Barreto, Rosália Rodrigues, Gisela Gonçalves e Ivone Ferreira da UBI.
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