Regionalização de Base Tecnológica

As regiões devem ser repensadas em termos das especializações das actividades tradicionais e emergentes, tendo como ponto de partida os mapeamentos de clusters e as implicações derivadas dos estudos pioneiros sobre cachos de inovação associados a actividades concentradas espacialmente em torno de um motor central de inovação e desenvolvimento regional.

A utilização de incentivos focados, exclusivamente, na atracção de investimento directo estrangeiro não é uma via eficiente para aumentar o bem-estar social, dado que os potenciais benefícios decorrentes dos efeitos de spillover apenas se concretizam, caso os empreendedores estejam motivados para a aprendizagem e a subsequente incorporação nos processos de produção e organização locais, das tecnologias importadas, das competências diferenciadoras e da cultura orientada para o desenho de organizações inovadoras, eficientes e sustentáveis.
É oportuno rever as prioridades que norteiam as políticas públicas de desenvolvimento, designadamente, as que se pautam pela aposta discriminadora na qualificação do capital humano, que pode cristalizar o crescimento económico, de base endógena e regional.
Neste contexto, existe a necessidade de delinear políticas públicas para o reforço de empreendedorismo baseado na inovação disruptiva, que objectivem a geração de combinações mistas de risco e performance, que garantam o prolongamento e a sustentabilidade de diferentes formas de empreendedorismo tecnológico altamente qualificado e, deste modo, possam gerar valor acrescentado facilmente transferível para a recuperação da convergência real, em matéria de crescimento económico.
A entrada de empresas nas instituições de ensino superior, em especial, de unidades empresariais que desenvolvam actividades na intersecção entre sectores emergentes e tradicionais, mediante intensa incorporação de conhecimento e tecnologia, deve ser também incentivada por via de políticas públicas orientadas para o empreendedorismo tecnológico e para a educação do capital humano.
Essas políticas devem ultrapassar a tradicional prática de mecenato e apostar sobretudo na criação de uma cultura empreendedora e ganhadora que proporcione dentro de uma abordagem negocial de cariz integrador, a obtenção de ganhos financeiros, tanto às empresas, como às instituições de ensino superior e respectivas unidades de investigação, viabilizando, deste modo, o funcionamento em rede e o crescimento endógeno das áreas de influência regional das instituições de ensino superior, sem observância de situações de mono-dependência face a fundos europeus e nacionais com uma natureza pseudo-estruturante.
Neste sentido, novos mecanismos de regionalização tecnológica podem emergir a partir do potencial de crescimento endógeno de cada região, consubstanciado no que esta sabe historicamente fazer, de forma diferenciada, ao invés de se encarar a regionalização como uma tarefa administrativa e burocrática de organização formal e política dos territórios.
As regiões devem ser repensadas em termos das especializações das actividades tradicionais e emergentes, tendo como ponto de partida os mapeamentos de clusters e as implicações derivadas dos estudos pioneiros desenvolvidos por Alfred Marshall, Giacomo Becattini, Michael Porter, Ernâni Lopes, Felisberto Marques Reigado e Rui Baptista, sobre cachos de inovação associados a actividades concentradas espacialmente em torno de um motor central de inovação e desenvolvimento regional.
Nesta linha de pensamento, e tendo por base a edição recente de uma obra publicada pela editora Springer, onde se analisam diversos casos europeus de referência na implementação de políticas de empreendedorismo e inovação, é possível posicionar, definitivamente, as actividades empreendedoras de micro, pequena e média dimensão como a chave do crescimento endógeno, tendo por base as especializações produtivas regionais dotadas de maiores vantagens, em termos comparativos e competitivos, nos mercados globalizados.
Esta obra é lançada num período especialmente desfavorável, em termos económicos e sociais, no entorno do qual o empreendedorismo e a inovação assumem uma particular importância estratégica, na medida em que o crescimento endógeno deve ser considerado pelos decisores públicos e também pelos empresários e cidadãos, como um dos motores que pode catalizar as economias regionais e contribuir, deste modo, para dissipar as crescentes assimetrias económicas e sociais, que separam um território de base diversificada caracterizado por um dicotomia dilacerante: litoral versus interior.
A regionalização de base tecnológica é portanto a via preferencial para dar continuidade à filosofia Schumpeteriana e reformadora da Estratégia de Lisboa (Março de 2000), em todo o espaço europeu, que tem no seu capital endógeno: humano, organizacional, social, relacional, histórico e cultural; o recurso essencial para retomar o processo de convergência real e crescimento endógeno de base regional. 

Link para a obra publicada pela Springer:

http://www.springer.com/economics/policy/book/978-1-4419-0248-1

Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa,

Centro de Estudos em Inovação, Tecnologia e Políticas de Desenvolvimento, IN+