A psicologia de um antropólogo
Se alguns não pensavam ser possível encontrar pontos de ligação entre Freud e Lévi-Strauss, outros não concordaram e sugeriram mesmo estudos mais aprofundados. É desse desafio que surge o mais recente livro de Ángel Espina Barrio.
> Eduardo AlvesO Departamento de Sociologia da UBI promoveu, no passado dia 14 de Maio, um seminário de apresentação e lançamento do livro “Freud e Lévi-Strauss” de Ángel Espina Barrio, da Universidade de Salamanca. O evento juntou à mesma mesa o docente e investigador espanhol, o jornalista Fernando Paulouro Neves, Donizete Rodrigues, docente do Departamento de Sociologia da UBI e Luís Lourenço, presidente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UBI.
Um debate onde Fernando Paulouro, jornalista e director do semanário “Jornal do Fundão” recordou o papel social dos antropólogos. Cientistas que desempenham “um trabalho que vence o tempo e consegue, por isso mesmo, construir uma memória”. Para o director do semanário, a grande mais valia dos investigadores desta área passa “pela capacidade que têm de explicar as coisas de uma forma muito própria e contextualizá-las no seu tempo de forma a que se crie uma memória, um fio condutor que hoje é cada vez mais diminuído”.
No entender do jornalista, “estes investigadores são figuras essenciais de uma região como a nossa, onde a raia criou laços culturais muito fortes e singulares, marcantes desta área territorial”. Isto porque, acrescenta Paulouro, “o trabalho dos cientistas sociais passa, em grande medida, por identificar essas ligações e interpretá-las à luz da vivência local”.
Também Donizete Rodrigues, docente do Departamento de Sociologia da UBI falou sobre a temática deste seminário. Abordando a iniciativa de um ponto de vista mais académico, o docente da UBI falou sobre a importância, quer de Claude Lévi-Strauss, quer de Freud. Numa primeira abordagem “com contornos e testemunhos pessoais”, Donizete explicou o que representa Levi-Strauss para a antropologia. Mas “não se pode falar de Levi-Strauss sem falar do Brasil”. Donizete Rodrigues explica que “foi este país que serviu de palco às primeiras investigações deste cientista”. Quando Strauss aceitou o desafio de ir leccionar para um dos maiores países do mundo, “aceitou também o desafio da sua carreira e começou alguns dos seus mais importantes trabalhos”. Mas, existe também “uma outra perspectiva”. Aquela que “devemos sublinhar, e que diz respeito á transformação que o próprio Brasil sofreu com todos os estudos de Levi-Strauss”.
Um seminário que terminou com a intervenção de Ángel Espina Barrio. O docente da Universidade de Salamanca fez uma passagem geral pelo seu mais recente livro, agora tornado público em solo português. Um trabalho que visa “mostrar as ligações entre duas áreas do conhecimento e entre duas figuras notáveis, que, numa primeira abordagem não teriam grande coisa em comum”.
Espina Barrio adianta que “a antropologia freudiana é realista e é isso que se pretende também apresentar nesta obra”. Um livro onde “os dois autores contextualizam sobre cultura (Freud) e antropologia (Lévi-Strauss)”. O investigador espanhol acrescenta ainda que “são necessárias todas as disciplinas para compreender o homem. Por isso mesmo, a interligação entre as várias ciências é fundamental para ter uma visão, o mais completa possível”. Um livro que foi originalmente escrito em espanhol está já traduzido em diversas línguas, inclusivamente em Chinês.
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