Investigadores da UBI revolucionam pavimentação de vias
Uma técnica de asfaltamento de estradas está a ser utilizada, pela primeira vez, em toda a Península Ibérica. Um docente e duas investigadoras do Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura estão a acompanhar o processo e a tentar melhorá-lo. Reciclar o pavimento asfáltico das estradas até uma cifra próxima dos 98 por cento é o objectivo do grupo.
> Eduardo AlvesOs 25 quilómetros da Estrada Nacional 244, que estão a ser intervencionados na zona de Ponte de Sôr, pela Estradas de Portugal, podem não parecer a quem por ali passa, mas são um verdadeiro laboratório “ao ar livre”. Nesta extensão de via está a ser aplicada uma das mais recentes técnicas de asfaltamento que foram desenvolvidas. A prática é de tal forma recente, que está a ser aplicada, pela primeira vez, em toda a Península Ibérica.
Trata-se de “uma obra de reciclagem do pavimento asfáltico”, como explica João Paulo Castro Gomes, responsável pelo “C-MADE” – Centro de Materiais e Tecnologias da Construção, sedeado Faculdade de Engenharia da UBI. Para além de Castro Gomes, o projecto conta ainda com a participação de Marisa Almeida e Maria João Torres. Investigadoras que preparam teses de doutoramento e mestrado, “precisamente neste tipo de aplicação técnica”.
Tal como a designação indica, esta técnica não é mais do que um reaproveitamento da massa asfáltica do troço de estrada que está a ser intervencionado. Tudo começa “com o fresar do piso, de forma a ser retirado o pavimento asfáltico degradado”. Esse material é recolhido e colocado num estaleiro para posterior utilização. Castro Gomes refere também que o velho pavimento “é misturado com uma emulsão betuminosa a temperaturas relativamente baixas, entre os 100 e os 130 graus Célsius”. Valores muito diferentes daqueles a que são conseguidas as convencionais massas asfálticas. Logo neste processo “conseguimos garantir duas grandes poupanças para todos os envolvidos, mas sobretudo para o meio ambiente”. Esta técnica irá levar “a que cerca de 98 por cento do material recolhido previamente, esteja em condições de ser aplicado no local de onde foi recolhido e se comporte como uma massa asfáltica nova”. Ou seja, o velho piso, depois de fresado e aquecido, “está pronto a ser novamente aplicado”. Desta forma, “consegue-se reaproveitar todo o piso já existente e a matéria-prima que este representa”, mas também, acrescenta o docente da UBI, “solucionar o problema dos resíduos que este tipo de intervenções produzem”.
Actualmente, todos os desperdícios e detritos das mais variadas obras “têm de ser enviados para locais de acondicionamento certificados”. Um ponto que vai representar mais um custo nas obras “e também, mais um acréscimo à degradação ambiental”, diz Castro Gomes. Para além do ganho que este tipo de intervenção representa no custo da obra, uma vez que não será necessária uma nova massa asfáltica “há também um vasto conjunto de ganhos do ponto de vista ecológico”. Castro Gomes lembra que, com este tipo de aplicação “existe menos energia envolvida em todo o processo, um maior reaproveitamento de materiais e também, a preservação do ambiente, no que respeita aos depósitos de materiais antigos”.
A UBI contactou directamente a Estradas de Portugal, para supervisionar este projecto pioneiro. A resposta da empresa pública “foi rápida e positiva” e neste momento, os investigadores estão no terreno “com o intuito de melhorar o processo e conseguir reciclagem a massa asfáltica ainda com menos energia e a mais baixas temperaturas que o processo original”. Mas a esta primeira aspiração vieram já juntar-se duas novidades. Uma por parte das Estradas de Portugal “que nos pediram para acompanhar a evolução do comportamento do piso que recebe agora a massa asfáltica tratada por este processo” adianta Marisa Dinis. E outra da empresa que está a realizar toda a empreitada, a JJR e Filhos, que dentro de algumas semanas vai celebrar um protocolo com a UBI para futuras parcerias.
Mas esta nova técnica de reciclagem “ainda tem muito por explorar”. Nesse sentido, o grupo de investigadores do C-MADE, juntou-se a Maria de Lurdes Antunes, investigadora do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), para “analisar o efeito de todo o processo nas características do pavimento reciclado, em particular os parâmetros de formulação deste tipo de misturas; percentagem de material reciclado, percentagem de betume, temperatura de fabrico, entre outros”, expõe Castro Gomes.
Marisa Almeida, investigadora em doutoramento, está a desenvolver um método de formulação para este tipo de misturas recicladas a quente em central, aproveitando assim a experiência prática do estudo sobre esta obra. Já Maria João Torres, investigadora em mestrado, procura estabelecer o comportamento deste novo tipo de pavimento com acção da água e efeitos de gelo-degelo. Os resultados alcançados pelos investigadores da UBI podem, a breve trecho, começar a ser aplicados em muitas outras estradas de Portugal.
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