Voltar à Página da edicao n. 484 de 2009-04-28
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A sala de espectáculos do Unidos Futebol Clube acolheu a sessão solene da Assembleia Municipal

As contas de Abril

Na vila operária, a sessão solene do 25 de Abril serviu, acima de tudo, para falar dos problemas sociais que actualmente o País atravessa. A falta de emprego e a grave situação laboral no concelho foram campos abordados por todas as forças partidárias.

> Eduardo Alves

Na sala de espectáculos do Unidos Futebol Clube do Tortosendo ainda parecia escutarem-se os versos da “Grândola. Vila Morena”. A canção que ganhou forma na voz de Zeca Afonso é cantada vezes sem conta na madrugada de 24. Há 35 anos que no Tortosendo é assim. Naquela que foi uma das vilas mais fustigadas pelas garras do regime de Salazar, a música que fala de igualdade e do povo a comandar um País serve de mote para algumas horas de festa. Como sempre, a enorme sala desta colectividade que também ganhou força no período pós-revolucionário, é palco para espectáculos diversos, rematados com “Grândola, Vila Morena”.
O Tortosendo não é uma vila morena, mas sim “vermelha”. Até há pouco mais de uma década, o Partido Comunista Português tinha aqui uma das mais activas secções. Fruto dos muitos operários têxteis, a ideologia do trabalhador contra o patronato encontrava na mentalidade geral, terra fértil para se desenvolver.
Hoje tudo mudou, as cantigas continuam a ser as mesmas, e as ruas percorridas à meia-noite com banda de música e foguetes. Mas os rostos, o pensamento, a vivência das gentes do Tortosendo, mudou por completo. É uma sala repleta de pessoas que carregam nos olhos a incerteza de um emprego, o possível encerramento de mais uma fábrica, o “ficar sem trabalho” para 300 operárias, num tecido urbano onde, nos últimos dez anos, cerca de quatro mil empregos desapareceram.
Foi nesse espírito de alguma esperança, mas também de forte apreensão que os membros dos diferentes partidos com representação na Assembleia Municipal falaram os tortosendenses. Jorge Fael, do Partido Comunista Português falou da situação “chocante” em que se encontra o País. Uma terra que 35 anos após a revolução popular continua a criar desigualdades entre ricos e pobres e onde as grandes empresas e grupos económicos obtêm lucros, enquanto se lançam milhares de trabalhadores no desemprego. Fael pede a intervenção do Estado, nomeadamente, no caso do sector têxtil da Cova da Beira que, mais uma vez ameaça lançar no desemprego 800 pessoas.
Também Ana Monteiro, do Bloco de Esquerda, fez alusão ao estado em que se encontra o tecido empresarial do concelho e da região, mas também as contas da autarquia serrana. Para a representante do BE “o monolítico poder local, que se deveria comprometer com o desenvolvimento de toda uma população, forja na economia doméstica “virtuosas” dívidas de 88 milhões de euros... oitenta e oito milhões de euros de “virtude” … afinal os tempos também deram uns retoques no próprio conceito de “virtude”. A deputada acrescentou que “tombaram nas ruas de Abril as reivindicações pelo trabalho, tombaram no arbítrio da liberdade. Duzentos postos de trabalho em risco no Tortosendo. Estão em dívida 40 por cento do salário de Fevereiro e o salário de Março, bem como metade do subsídio de férias e do subsídio de Natal de 2008. Foi este povo trabalhador que teceu e transformou pelo seu trabalho a operária liberdade, e hoje, nas ruas de Abril, já se cunha a sua nostalgia póstuma”.
João Correia deu voz às palavras do Partido Socialista e lembrou também as dívidas de 88 milhões do município covilhanense. Uma dívida que “em relação a 1997 cresceu 400 por cento” e que deixa os socialistas “preocupados com o futuro da cidade”. Mas nada que o impeça de se prepararem “para a mudança e para uma discussão alargada sobre o futuro da cidade, discussão esse que abarque todos os agentes políticos e sociais”.
Por seu lado, Bernardino Gata, do PSD, alargou o discurso à actuação do governo socialista. O representante social-democrata lembrou que a situação actual do País, se deve em muito, “à actuação da actual maioria governativa socialista”. Para Gata, a pobreza e o desemprego são assuntos prioritários, também na agenda do PSD. Mas parece que o trabalho de resolução deste tipo de problemas é dificultado por “um governo centralizador que esquece o interior em detrimento das grandes obras públicas”.


A sala de espectáculos do Unidos Futebol Clube acolheu a sessão solene da Assembleia Municipal
A sala de espectáculos do Unidos Futebol Clube acolheu a sessão solene da Assembleia Municipal


Data de publicação: 2009-04-28 00:29:38
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