Estamos em crise! Coitados dos portugueses que aguentam estoicamente as dificuldades financeiras e louvado seja o seu sacrifício. Valha-nos Deus neste período de contenção; Deus e o shopping, venha a nós o seu encanto.
Santificadas sejam as lojas onde abrimos os cordões à bolsa e compramos uma pilha nova para o nosso relógio novo, que fica a matar com o casaco novo, que faz conjunto com aqueles sapatos novos, tudo regado com um perfume novo. E o que come o feliz contemplado com este conjunto tão fashion ao jantar? Batata cozida. Com quê? Com nada, porque não tem dinheiro para mais.
Ora bem, moral da história: gastar dinheiro a levantar a auto-estima faz mal à saúde e à conta bancária e torna-nos cínicos quando falamos de crise. Poupar é uma arte, mas gastar é “a” arte dos portugueses. Para quê comer em casa com a família, no quentinho do lar se podemos ir de carro ao McDonald’s (nada contra as vacas trituradas, amassadas e grelhadas) encher a triste barriguinha até saltar o botão das calças? A conta por favor: combustível, comida, tempo e juízo a aturar putos aos gritos e empregados de balcão com sorriso amanteigado pré-definido. O mais deprimente é que nem precisam de dizer “volte sempre”; é que a gente não resiste a gerir mal o nosso dinheiro.
Estamos em crise! Mas somos fashion e andamos de barriga cheia.
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