Voltar à Página da edicao n. 479 de 2009-03-24
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      Edição: 479 de 2009-03-24   Estatuto Editorial   Equipa   O Urbi Errou   Contacto   Arquivo  
O vale glaciar da Serra da Estrela foi o palco escolhido para esta actividade

Por trilhos nevados entre vales e montanhas glaciares

Covão d’Ametade, manhã de Sol, temperatura amena, os campistas começam a juntar-se para mais uma caminhada. Do outro lado das águas do rio Zêzere estão montadas as tendas para a aventura de dormir em contacto com a neve. Apetrechos a rigor, os aventureiros preparam-se para uma caminhada pedestre por entre os montes e vales glaciares da Serra da Estrela. A mais recente edição do “Asestrela” está no terreno, para revelar facetas desconhecida desta região.

> Ema Domingos

A primeira edição deste “Asestrela”, dá continuidade à última e vigésima quinta edição do “Nevestrela”. De miúdos a graúdos, todos participaram nesta actividade de montanha. Caminhada ou corredor de gelo, para os mais destemidos, é o que se propõe.
Dez da manhã marca o relógio quando os participantes começam a percorrer os caminhos da neve. Pressente-se já um grande dia de boa disposição e exercício físico.
À medida que se caminha, a paisagem vai-se modificando. Vão surgindo do lado direito, por entre os grandes mantos brancos, os velhinhos e rudes Cântaros, figuras chave da Serra da Estrela, carregando com eles à volta de onze mil anos de existência. 
O sol da manhã avizinha-se quente, ideal para uma pausa para conversa. Dali do alto fala-se de tudo, desde o prazer da vista privilegiada, ao relato de histórias de outros tantos percursos que ali se podem fazer. Vindos de todos os pontos do país, as conversas com diferentes sotaques portugueses, falam das razões que os levam, a eles e a tantos outros turistas, a visitar e a desfrutar de tudo o que a Estrela tem de melhor, sendo esta actividade «uma das mais privilegiadas que se pode ter».
A neve, traiçoeira por vezes, continua estável dando maior prazer continuar e ter forças para um caminho que à medida que se avança mais difícil se torna. As peripécias são muitas, por mais tranquilo que se ande, os deslizes e os tombos tornam-se mais frequentes, mas aqui, tudo faz parte da aventura.
Despontando algures sobre a neve, uma vegetação única da Cordilheira Central, com muitos espécimes em via de extinção. A medida que a altitude aumenta a flora vai variando. Plantas raras noutras regiões, como Cervum, Urgueira, Sargaço e alguma Giesta, enfeitam a paisagem.
A parte menos agradável que surge da vegetação é os vestígios do grande incêndio de 2005. Em pleno mês de Agosto, o pior surgiu no vale glaciar, deixando um rasto de destruição que perdura até hoje.
Para além de ser uma área protegida, o vale glaciar de Manteigas era candidato a património natural, pela beleza que ostentava, pelo verdejante da paisagem maioritariamente perene dos pinheiros altos que lá se encontravam. O que resta hoje depois do incêndio é uma paisagem que mesmo com o passar dos anos, ainda deixa entrever uma certa escuridão do queimado. Por mais que se esteja a desfrutar deste grande passeio é inevitável não encontrar alguma vegetação queimada por aquela fatalidade. Uma má recordação que tende a ser apagada com iniciativas como a plantação de árvores nos locais mais atingidos.
Um desses locais atingidos, mas ao mesmo tempo um dos mais bonitos e agradáveis escondidos atrás de serra, é o chamado Vale da Candeeira. Local onde, segundo estudos realizados, existem camadas no subsolo com mais dezasseis mil anos de existência. Aqui a caminhada parece mais calma, a neve apresenta menos espessura, vista por aqui e por ali, talvez devido ao sol ou mesmo pelas águas do Zêzere que ali ao lado passam. Geladas e límpidas, estas águas são um convite irresistível a quem ali passa. Todos bebemos um golo do riacho, e com o calor que fazia por aqueles lados consegue-se perceber que a satisfação é grande, não só pelo sacio da sede mas igualmente pelo prazer “provar” agua tão límpida.
O tempo de pausa curto e conciso consegue dar um descanso ao corpo, pois tamanha beleza natural torna suportável qualquer dificuldade, e assim começa mais uma etapa desta caminhada
Um tanto mais difícil esta recta final, a perícia tem de ser muita, é como que se de uma escalada se tratasse, e não há margem para descuidos. De baixo a subida parece mais fácil do que é, mas depressa se comprova que isso não corresponde à realidade.
Muitos pensam que se vai caminhando, mas não se vê o fim, um pequeno sítio plano para que se possa descansar, apesar de o cansaço já ser muito, nunca é demais para se ter fôlego para apreciar tamanha paisagem.
A tarde já vai adiantada e mesmo só com o almoço como refeição maior, até então ainda ninguém teve a coragem de desistir, mesmo sendo visível que muitos já não mantêm a força inicial.
Depois de uma meta íngreme conseguida com algum esforço, é tempo para mais uma pausa, pois a partir deste ponto começa o caminho de retorno para o ponto de chegada.Com tanta neve pisada pelos caminhantes o seu estado já se torna bem evidente e fios de água começam as ser constantes, um piso não adequadas para quem o calçado não favorece. As queixas e risadas começam a ser constantes, e muitos que se aventuram a perceber se é mesmo água que trazem dentro do sapato encontram quase roupa pronta a torcer, mas aguenta-se mais um pouco pois o entusiasmo de chegar já é muito.
O passo começa a ser apressado para chegar e à medida que se a paisagem começa a ser familiar mais ainda se apressa. Muitos dos participantes já se encontram no descanso, descanso merecido depois da caminhada que representou umas sete horas bem passadas.
Tempo agora de convívio ao redor do calor de uma bebida quente, troca de palavras e experiências no recanto com um ambiente caloroso debaixo de tecto, e esperar que no ano seguinte a aventura se repita.


O vale glaciar da Serra da Estrela foi o palco escolhido para esta actividade
O vale glaciar da Serra da Estrela foi o palco escolhido para esta actividade


Data de publicação: 2009-03-24 00:05:00
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