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A reconstituição do acidente levou ao corte do trânsito na auto-estrada

Culpas “repartidas” na A23

Os dois condutores, no acidente de Novembro de 2007, na A23, poderão ter tido culpa, segundo um dos advogados das 17 vítimas mortais

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A reconstituição do desastre na auto-estrada A23, ocorrido em 2007 e que provocou 17 mortos, revelou na passada sexta-feira que “ambos os condutores envolvidos contribuíram para o acidente”, disse um dos advogados. Os jornalistas assistiram à reconstituição, a algumas dezenas de metros, a partir de um perímetro montado pelas autoridades.
O advogado das vítimas, João Marcelo, magistrados e autoridades acompanharam a diligência de perto. “Vimos que o autocarro claramente invadiu a semi-faixa da esquerda e contribuiu para a atrapalhação da condutora do ligeiro”, diz o causídico, o único que se dispôs a falar aos jornalistas. “O autocarro ultrapassava o eixo da via em 20 centímetros e estava a 1,51 metros da faixa à direita, quando as regras dizem que se deve conduzir o mais à direita possível”, precisa. “Não digo que o ligeiro não tenha culpa, que não o pudesse ter evitado. O que digo é que ambos contribuíram para o acidente”, refere o advogado, que defende a ideia que há culpas repartidas no processo.
A reconstituição decorreu entre as 11 e as 12 horas, no local do sinistro, junto ao nó de Gardete (Vila Velha de Ródão). O juiz de instrução do Tribunal de Castelo Branco ordenou que um autocarro igual ao acidentado recuasse 26 metros a partir do local do primeiro embate do ligeiro, para perceber o que se passou uns segundos antes. Os pontos de referência foram marcados com recurso a GPS, para “garantir precisão”, explica fonte ligada ao processo.
Ao longo da manobra de recuo, feita por etapas e ao longo de vários minutos, as rodas da esquerda do autocarro pisaram o traço descontínuo que separa as duas faixas do sentido sul/norte, com o veículo a abeirar-se do espaço do outro veículo. Apesar da proximidade do autocarro, o ligeiro cabia no espaço que restava, segundo se observou na reconstituição, que recorreu também a um carro idêntico. Mas a aproximação, na opinião de João Marcelo, terá contribuído “para a atrapalhação da condutora do ligeiro, que por sua vez não teve unhas para manter o carro dentro do espaço que tinha”. “Mas não podemos esquecer que temos aqui uma auto-estrada, com um grande declive e velocidades da ordem 100 quilómetros por hora, no mínimo. Estas coisas paradas são mais fáceis que a andar”, conclui João Carlos Marcelo.
Questionado pela Agência Lusa no final da reconstituição, o juiz Jorge Martins preferiu não prestar declarações. Remeteu para o despacho de instrução e para o que se observou na reconstituição, para cada um “tirar as suas conclusões”. Na reconstituição participaram 30 militares da GNR de Abrantes e Castelo Branco.
O desastre ocorreu no dia 5 de Novembro de 2007, pouco antes das 20 horas, quando um autocarro e um ligeiro colidiram. Ambos caíram por uma ravina com 50 metros de altura. As vítimas mortais viajavam no autocarro e eram alunos da universidade sénior de Castelo Branco, que regressavam de uma visita a Fátima e Nazaré. Em Setembro de 2008, o Ministério Público acusou a condutora do veículo ligeiro, Carina Rodrigo, de homicídio por negligência, por “falta de atenção e cuidado” ao ultrapassar o autocarro. No entanto, o juiz de instrução pediu a reconstituição para perceber se o condutor do autocarro, Fernando Serra - que, de acordo com o despacho, passou também a ser arguido no processo -, fez alguma manobra que influenciasse a condutora a perder o controlo e colidir.


A reconstituição do acidente levou ao corte do trânsito na auto-estrada
A reconstituição do acidente levou ao corte do trânsito na auto-estrada


Data de publicação: 2009-03-03 00:04:00
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