Observatório avança com números
O desemprego na Beira Interior deve ultrapassar a fasquia dos dez pontos percentuais. Quem o diz é José Pires Manso, professor do Departamento de Gestão e Economia da UBI e responsável pelo Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social.
> Eduardo AlvesDe entre os vários parâmetros que Pires Manso analisou para mais um estudo sócio-económico da Beira Interior, um dos pontos em maior destaque é o da taxa de desemprego. O documento intitulado “A Beira Interior e as Perspectivas Económicas e Sociais para 2009”, tem como objectivo “reflectir sobre as perspectivas económicas e sociais regionais para 2009 enquadrando-as numa perspectiva macroeconómica internacional e nacional”.
No que respeita à conjuntura internacional, “a crise do subprime ou do financiamento desregrado ao sector imobiliário e à construção e o preço do petróleo e de outros bens energéticos” foram alguns dos parâmetros analisados, entre um conjunto de mais de uma dezena de itens. Já no panorama nacional, Pires Manso reflectiu sobre “a redução das exportações portuguesas decorrente do abrandamento da procura internacional da UE e de todo o mundo ocidental, a excessiva e crescente dependência (estrutural) de Portugal em relação ao estrangeiro, o preocupante crescimento do desemprego, um flagelo social, e uma má gestão de algumas instituições financeiras nacionais”, entre outros.
Segundo o responsável pelo Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social (ODES), integrado na Universidade da Beira Interior, tudo isto aponta para que em 2009, “o desemprego alcance os dez pontos percentuais”. No caso da Beira Interior, o cenário parece ser ainda mais negro, isto porque, segundo Pires Manso, “o desemprego registado nesta zona do País é sempre superior à média nacional”. Esta é também uma das grandes conclusões que tem vindo a ser registada ao longo dos diversos trabalhos realizados por esta estrutura.
A conjuntura económica internacional e o panorama português leva Pires Manso a acredita que o desemprego, “nesta região do interior, ultrapasse os dez por cento”. Um indicador que ganha relevo nas previsões para 2009 que o catedrático da UBI adiantou. Um ponto que “tem de ser compreendido no conjunto de vários parâmetros e que deve ser tomado em linha de conta”. O resultado do “contínuo afundamento do sector têxtil tradicional, do encerramento de empresas de confecções e também do encerramento total ou parcial de algumas fábricas de cablagens regionais”. A tudo isto se juntam ainda “as dificuldades acrescidas para praticamente todas as empresas da região decorrentes dos entraves no acesso ao crédito, por sua vez decorrentes da escassez nacional e internacional de crédito, e do abrandamento da procura externa provocado pelo agudizar da crise internacional”.
Parâmetros que levam a uma “intensificação da desertificação e do despovoamento do interior, ao abandono das aldeias e vilas, da agricultura e pecuária, da fraca indústria, de algum comércio e até de alguns serviços”. Segundo o catedrático da UBI, actualmente muitas destas situações são já visíveis pela concentração das famílias nas principais cidades do país e do estrangeiro, pela “precarização do emprego, pelo aumento do desemprego e pelo aumento do número de reformados com reformas muito baixas”. É também nesta conjuntura que “a exclusão poderá vir a aumentar, sendo por isso urgente criar políticas de inclusão que contemplem estes casos e também a inclusão dos imigrantes de diversas origens que nos procuram mas que não têm os seus problemas de legalização e emprego e totalmente resolvidos”, reitera Pires Manso.
Um dos maiores problemas identificados também por Pires Manso, neste começo de ano é o da duração da crise. O conceito parece estar já interiorizado no quotidiano dos portugueses, mas a sua duração e dimensão “ainda não se conseguem prever”. Este docente do Departamento de Economia e Gestão aponta algumas das principais áreas que devem continuar a ser prejudicadas com o agravamento da situação. Os sectores do têxtil, das confecções e dos automóveis estão entre aqueles que mais devem ver a situação agravada.
Até quando “esta situação de crise se vai prolongar é algo que ninguém ainda quer adiantar”, sublinha Pires Manso. Daí que, o catedrático aponte como algumas das medidas a serem tomadas para minimizar os efeitos do desemprego e da falta de escoamento de produtos, “a criação de leis que ajudem, de facto, as empresas, sobretudo as de pequena e média dimensão”. Aparecer como uma salvaguarda das empresas num período “de forte retracção do investimento” é uma das propostas de Pires Manso.
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