2008 já passou. Entramos em 2009. A crise financeira que manifesta a falta de ética e de princípios dos especuladores, não deixa saudades. O ano que finda, tirou-nos a confiança nos bancos, instituições que nos ofereciam todas as garantias. Garantias defraudadas por escândalos de alto quilate e actos de corrupção sofisticada. Accionistas e executivos que se apresentavam como exemplos de gestão, afundavam as empresas com esquemas que as entidades fiscalizadoras não descobriam. Era a gestão fraudulenta no seu maior esplendor.
Afinal, a ganância do dinheiro e dos lucros sem limites abriu esquemas onde as maiores falcatruas eram feitas com a naturalidade com que se bebe um copo de água. É caso para dizer : a que ponto chegou o estado do mundo ! E, como vivemos no mundo globalizado, onde tudo é interdependente, a crise espalhou-se por todo o planeta como um incêndio.
Os especialistas dizem que se trata da maior crise desde a Grande Depressão de 1930 nos Estados Unidos da América. E da qual não de avistam grandes soluções para sair. A luz ao fundo do túnel ainda não se vislumbra. Há tentativas que se prevêem poderem ser as melhores. Mas não há certezas.
Os Estados foram obrigados a intervir como elementos reguladores do sistema financeiro. Quando menos se pensava, bancos e seguradoras foram nacionalizadas, inclusive na América, o país mais liberal do mundo. Os mercados tornaram-se selvagens e a regulação era o primeiro remédio a aplicar. Pois tinha-se concluído tarde que havia falta de regulação.
Mesmo assim as intervenções dos Estados com injecções de milhões e milhões são consideradas como um paliativo para os mercados funcionarem regularmente. Mas quando a crise entrar em pleno na economia real- aliás já começou- os dramas humanos vão multiplicar-se e os problemas sociais avolumar-se-ão. E as consequências nas vidas das famílias estão já a sentir-se sobretudo no endividamento, prestações e créditos.
E não se adoce a pílula em relação a Portugal. Com a economia que temos, a recessão entra triunfante, sem pedir licença a ninguém.
Como vai ser 2009 ? Ninguém arrisca previsões com receio de enganos. Até na grande comunicação social se evitam as habituais previsões, optando-se por profetizar sobre 2012, ano do final do primeiro mandato de Obama na América. Pelo menos, há certezas de uma certa mudança.
Os sinais que se revelam, não oferecem bons augúrios sobre o Ano Novo. O cenário não é animador : quando é que já se viu, ao mesmo tempo, os Estados Unidos, a Europa e o Japão que representam 63 por cento da economia mundial, entrarem em recessão ? Até agora, nunca tal havia acontecido.
Não se trata de ser pessimista mas de ser realista. E as mentalidades têm de se preparar para o futuro que nos espera. A Grande Depressão demorou três anos a recuperar mas graças a um homem de grande visão política Roosevelt. Mas na Europa tivemos a Segunda Guerra Mundial.
Hoje, o mundo é diferente. Guerra, decerto, não vamos ter. Mas onde estão os homens de visão política como os que fundaram a União Europeia e reconstruíram a Europa das cinzas de uma guerra de milhões de mortos ?
A esperança não nos deve faltar. E, como diz o povo, é a última a morrer. Mas temos de olhar o futuro com realismo para não sermos vítimas de ilusões fáceis. E, como termina sempre um conhecido almanaque, Deus super omnia.
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