Voltar à Página da edicao n. 466 de 2008-12-23
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O aparelho está agora em fase de testes

Aparelho criado na UBI regista intensidade da dor

O equipamento chama-se Algígrafo e permite ao doente transmitir a quem o está a tratar, no momento, a intensidade da dor ou desconforto que está a sentir, para que o clínico possa corrigir o procedimento. Numa segunda fase pretende-se fazer essa medição apenas com base em sinais fisiológicos.

> Ana Rodrigues

Permite registar e traduzir a intensidade da dor no momento em que um utente está a ser alvo de tratamento médico. O nome do aparelho é Algígrafo e foi desenvolvido na Universidade da Beira Interior (UBI) por três investigadores. Neste momento ainda se encontra na fase de protótipo, mas já há interessados em comercializar o equipamento. Um processo que só poderá ter início depois de a patente ter sido registada.
Composto por um sensor que o doente segura na mão e por um programa informático, o Algígrafo dá a possibilidade a quem está a ser intervencionado de transmitir ao profissional de saúde o grau de desconforto ou dor que sente no momento, premindo o manípulo que tem na mão. “O que se pretende é dar controlo ao doente para que, comunicando com o médico, este mude o procedimento utilizado, de modo a não ser tão desconfortável”, explica Vasco Rolo, estomatologista e mestrando na UBI.
O que existia até agora eram apenas escalas visuais analógicas que as pessoas apontavam para atribuírem um posicionamento à dor que sentiram. Com o inconveniente de ser feito posteriormente ao tratamento e através de questionários. O que obriga à participação de um terceiro elemento e tem a desvantagem de a pessoa já não se lembrar exactamente da dor sentida em cada altura. “Este aparelho permite a indicação no momento, é mais real, possibilita a intervenção imediata de quem está a tratar, pode-se corrigir logo o procedimento”, sublinha Pedro Araújo, docente do Departamento de Informática.
Questionado sobre a subjectividade da medição, Pedro Araújo realça a maior exactidão em relação aos métodos existentes, de mera observação. Por o doente, com o manípulo na mão, ter tendência a apertar automaticamente quando sente dor, com maior ou menor intensidade, e por tudo ser registado de forma electrónica.
Joaquim Viana, anestesiologista e professor na Faculdade de Ciências da Saúde, sublinha que a dor “é uma experiência emocional”. “É difícil para alguém dizer se está a sentir mais ou menos dor que outra, porque nem toda a gente tem a mesma resistência”, frisa. O que acaba por ser importante é medir a “variação da dor na pessoa” durante o tratamento, não a comparação com outras.
A principal vantagem do equipamento, segundo Vasco Rolo, é a comunicação directa com quem se está a tratar. “Muitas vezes nem podem falar, mas desta forma podem ir transmitindo o grau de desconforto. Por outro lado, os profissionais de saúde nem sempre podem estar a interromper o que estão a fazer para perguntar”.
Para além da intervenção momentânea, o Algígrafo regista, numa base de dados, o histórico das sensações emitidas pelo doente. O que permite uma análise posterior e o estudo sobre as causas mais frequentes de dor. “Era importante haver registos para termos ideia de quando é que os tratamentos são dolorosos, para poder corrigir preventivamente”, salienta Vasco Rolo.
Para já o programa é accionado através do sensor de pressão, o que permite a quem não pode falar comunicar, uma vez que os indicadores aparecem num monitor. Mas o Algígrafo está projectado para poder ser utilizado pelo sopro, no caso de quem não se consegue mexer, ou com sinais sonoros, adequado a invisuais. A dor crónica é outra preocupação, que vai obrigar à modificação do manípulo.
O aparelho biomédico já foi testado. Agora aguarda o registo da patente. O pedido foi feito há alguns meses. Prevê-se que a resposta do Instituto Nacional de Propriedade Industrial chegue em Janeiro ou Fevereiro. Esse é um dos requisitos para o equipamento poder ser posto no mercado, tal como o selo de qualidade da Comunidade Europeia, cujo processo está também em andamento.
Neste momento, acentua Pedro Araújo, ainda não se conhece uma reacção fisiológica do corpo que se possa medir para relacionar esse sinal com a dor sentida. Mas os investigadores adiantam que esse aspecto vai ser objecto de análise.
Joaquim Viana prefere não adiantar pormenores. No entanto, assegura que essa será a segunda fase do projecto da equipa, a que possivelmente terão de se juntar especialistas de outras áreas, como a psicologia. O docente da UBI está convicto de que será possível medir a intensidade da dor sem a intervenção do doente, com base em parâmetros fisiológicos. “Temos um cronograma definido para chegarmos a esse futuro desenvolvimento. Sabemos para onde queremos ir”, anuncia.


O aparelho está agora em fase de testes
O aparelho está agora em fase de testes


Data de publicação: 2008-12-23 00:00:00
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