Natal em tempos de crise
A três semanas do Natal, os centros comerciais e as ruas estão repletas de consumidores que procuram os presentes de Natal. A crise faz-se sentir nas vendas e os presentes mais baratos são os mais vendidos.
> Joana GonçalvesO Natal está à porta e a euforia das compras da quadra já começou. Nos centros comerciais, pessoas com as mãos cheias de embrulhos acotovelam-se nos corredores, algo que já não acontece nas ruas onde se situam as lojas do comércio tradicional.
Centro comercial é sinónimo de facilidades. Tem todo o tipo de lojas, variedade, restaurantes, estacionamentos, tudo aquilo que contribui para que este ultrapasse, de dia para dia, o comércio tradicional. Ir à frutaria do fundo da rua ou à loja de roupa do centro da cidade, passou a ser mera casualidade ou até necessidade.
Margarida Pires compra alguns presentes num Centro Comercial, mas sublinha que existem sempre algumas compras de Natal que prefere fazer no comércio tradicional, lojas únicas em ruas únicas, objectos que fogem à uniformidade dos centros comerciais. O encanto do comércio tradicional parece assim manter-se: “apesar de gostar de andar nas lojas de rua, confesso que aqui é muito mais fácil encontrar tudo o que preciso. Tenho dois pequenotes que ainda pedem muitos brinquedos, compro-lhes quase tudo aqui no centro comercial”, acrescenta Margarida Pires. Na época natalícia, o sortido de brinquedos nas lojas é sempre mais alargado do que no resto do ano e os hipermercados promovem campanhas de desconto que chegam aos 60 por cento.
Segundo um estudo recente da consultora Deloitte “as famílias portuguesas deverão moderar as suas compras de Natal este ano e gastar menos 4,8 por cento do que em 2007”.O estudo indica ainda que os Portugueses dedicam mais tempo às compras para escolher prendas mais baratas.
Filipe Lousada, que também faz as suas compras de Natal no centro comercial, é um exemplo desta redução nos gastos com o Natal. "Este ano só vou dar presentes aos meus filhos”, refere, apontando como causa o aumento dos preços e a perda de poder de compra. Confessa que prefere os centros comerciais, até porque, já viu um pouco de tudo no comércio tradicional, desde "pessoas atrás de balcão de pijama a empregados com um grãozinho na asa”.
A vendedora da Bershka, Sara Fonseca, passa os dias no centro comercial e confessa notar algumas alterações: "as pessoas compram presentes baratos, pequenas lembranças, já não oferecem coisas caras”, diz Sara. A crise e a condição de desempregado tornam a tarefa das compras de Natal penosa, obrigando a procurar as promoções nas prateleiras dos hipermercados, e os objectos mais baratos. Em relação ao comércio tradicional, “prefiro os centros comerciais para comprar, faço tudo aqui dentro. Pode ter mais confusão, mas prefiro ao comércio tradicional”, acrescenta a lojista.
Na rua Direita, no centro da Covilhã, ainda existem inúmeras lojas de comércio tradicional. A vendedora da loja de roupa Pautónia, Helena Morais, salienta a perda de poder compra das pessoas. “Compram pouco e preferem coisas de baixo preço”, diz. Apesar do Natal estar a porta, a lojista não nota grande diferença nas compras dos clientes. “As pessoas preferem comprar nos grandes centros, porque é um sitio onde têm tudo, desde alimentação ao pronto-a-vestir”, refere a lojista.
As dificuldades financeiras têm alterado os hábitos de consumo, com os clientes a procurarem lojas mais baratas, como as tão conhecidas lojas chinesas. Apesar disso, a gerente da loja “Bom Bom Bom”, Cátia Alexandra, conta que “as vendas diminuíram, mas as pessoas pedem muitos embrulhos e levam apenas pequenas lembranças para oferecer. Com a crise compram os presentes de Natal aqui”, diz, mas a crise também se reflecte nas vendas destas lojas.
Com dificuldades em poupar e fazer compras, o "estado de alma" dos consumidores está em baixa. O espírito de Natal preenche as ruas e grandes centros, a carteira é que está mais vazia.
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