Richard Wright em discussão na UBI

Decorreu nos dias 28 e 29 de Novembro, no anfiteatro da Parada, o congresso internacional que teve como tema o centenário do nascimento de Richard Wright. Foram vários os conferencistas que marcaram presença e fizeram deste o segundo mais importante evento, a nível europeu, sobre o best-seller afro-americano.

Quem se deslocou ao anfiteatro da parada nos dias 28 e 29 de Novembro terá saído com a certeza de que as ideias de Richard Wright estão bem vivas. As suas ideologias e lutas continuam bem presentes nas sociedades contemporâneas e são objecto de reflexões, como a que aconteceu na UBI.
“Trata-se de um autor e de uma figura muito singular na cultura americana e na cultura europeia pelo exemplo de vida que ele foi”, começa por dizer Paula Mesquita, docente do Departamento de Letras da UBI e uma das organizadores desta conferência. Para além de ser o primeiro best-seller afro-americano nos Estados Unidos da América, Richard Wright “teve um percurso de vida extraordinário e era um autor e um intelectual com ideias extraordinariamente visionárias e muito presciente em relação à tensão racial que se vivia no tempo dele, nos EUA; mas também que nós continuamos ainda a saber que é um problema muito real da parte do povo americano e não só; uma vez que podemos perfeitamente fazer a ponte nesse aspecto menos feliz na vida das sociedades”, acrescenta.
A recente eleição de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos da América foi um dos aspectos mais abordados durante o congresso, pois esta eleição deu grande visibilidade às tensões raciais, algo contra o qual Richard Wright lutava diariamente. Os oradores recorreram às obras de Wright para demonstrarem a sua aplicação nos dias que correm. “Isso foi abordado ao longo do congresso e é um facto que para muitos deles, esta conquista histórica recente fazia com que eles tivessem que reavaliar os seus próprios estudos do Wright, porque aquilo que o Wright dizia e um certo pessimismo; uma vez que ele tinha ideias muito claras sobre o destino das sociedades”. Mas era um discurso, acrescenta a docente da UBI “que sentíamos como um pouco pessimista, um pouco sem visão de um futuro tão brilhante. E, provavelmente, até mais cedo do que o próprio Wright pudesse calcular, nós temos uma revolução histórica desta dimensão, com a eleição de Obama”.
O documentário sobre o rescaldo do furacão Katrina, apresentado por Mário Torres, docente da Universidade de Lisboa, foi também um dos momentos mais marcantes da conferência, pela forte carga emocional que o vídeo transmitia.
Para Paula Mesquita, este congresso internacional representa um “pequeno milagre”. Isto porque, “com a comemoração do centenário do Richard Wright na UBI, apercebemo-nos que inadvertidamente se tinha tornado a segunda maior da Europa e que apenas a Universidade Americana de Paris, em colaboração com a própria filha do Richard Wright, que vive na capital francesa, procedeu a uma homenagem semelhante”acresenta. Para além do mais, “temos, em relação aos outros congressos que foram organizados, vários nos Estados Unidos e estes dois na Europa, uma vantagem muito interessante que é o facto de estarmos a celebrar o centenário de um autor politicamente tão envolvido nas questões da tensão racial no ano em que temos um presidente americano com ascendência africana”. Para além do seu enorme interesse por este autor norte-americano a docente sublinha os apoios recebidos da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, do Banco Português do Investimento (BPI) e da Embaixada Norte Americana em Lisboa, que possibilitaram organização desta conferência.
Mário Torres, docente na Universidade de Lisboa, considera que é “muito importante que se façam iniciativas destas não só nas grandes universidades, nem nos centros de grande estudo de Richard Wright”. Este orador também reconhece que esta “é uma forma de relembrar Richard Wright e de dar a conhecer a cultura americana”.
O congresso, que superou as expectativas da organização e contou com a adesão dos maiores especialistas em Wright a nível mundial, registou escassa adesão dos estudantes, mas uma forte presença de docentes e investigadores.