A crise financeira arrastou as economias dos países mais avançados para estados de recessão. É difícil saber, segundo os especialistas, quando será o seu fim. A julgar pelo passado, precisam-se vários anos para a sua normalização.
As culpas da crise foram distribuídas por um capitalismo sem regras e pela falta de regulação dos mercados. O liberalismo tomou conta de todas operações financeiras. O Estado foi considerado desnecessário para intervir.
Os créditos malparados funcionaram como clique a anunciar a crise. As famílias que não tinham rendimentos para pagar as prestações, multiplicaram-se. Os especuladores na ânsia de ganhar mais dinheiro aproveitaram a ocasião para multiplicarem os lucros.
O resultado não se fez esperar. O mercado entrou em ebulição e as falências surgiram em catadupa. A liquidez dos bancos volatilizara-se para mal de todas as economias. E ainda, por mais paradoxal que pareça, os gestores responsáveis da situação foram indemnizados com quantias astronómicas e férias luxuosas.
Estamos num mundo em que há coisas difíceis de compreender. Um mundo sem sentido.
Como se chegou a tal situação? A resposta parece simplista mas não é. Quando não há ética nos negócios nem responsabilidade social a acompanhá-la, a perversão irrompe e estabelece a sua lei. A associação cristã dos empresários portugueses (ACEGE) acaba de lembrar esta verdade.
A ética assenta em princípios e valores. Se não existem ou não se praticam nas decisões, a derrocada é fatal.
O modelo da doutrina social da Igreja tem virtualidades que, a serem observadas, evitariam crises como a que estamos a viver.
Segundo os seus princípios, a liberdade económica individual é inquestionável. A propriedade privada faz parte integrante do tecido empresarial. O Estado tem o direito de regulação para conseguir a justiça social. Os bens materiais estão destinados a todos.
Dois pilares servem de esteio à doutrina social da Igreja: a pessoa humana e o bem comum. O Vaticano II é claro : “A pessoa humana é e deve ser o princípio, o sujeito e o fim de todas as instituições sociais.” Sem respeito pela dignidade humana não há modelo social que nos valha.
O bem comum impõe-se como pedra branca. A Semana Social de Reims dá-nos uma definição lapidar: “O bem comum é o conjunto de bens necessários à vida humana, organizada de tal maneira que o indivíduo encontre, no meio assim constituído, os meios de realizar o seu destino.” Ora, qualquer ser humano tem direito a construir o seu destino no respeito da liberdade de cada um.
Compete a todos os empresários e gestores a análise do capitalismo face à ética. Quer a nível privado, que a nível público.
Há um perigo latente. O Estado pode ser tentado a intervir mais do que é necessário para sanar a crise financeira. O modelo intervencionista deve existir mas não para o Estado tudo comandar e adquirir um peso demasiado na economia.
Por isso, a observação da ACEGE é pertinente: “O Estado em Portugal consome cerca de 50 por cento da riqueza nacional e o desperdício público continua a ter um doloroso custo social a dificultar o desenvolvimento da economia e a adopção de politicas sociais mais avançadas. O desígnio de menos Estado e melhor Estado continua plenamente actual em Portugal.”
Estejamos todos atentos para que os valores orientem a economia. Para bem dos cidadãos e uma ordem social mais justa.
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