Vivem-se tempos de mudança na universidade portuguesa e no Ensino Superior em geral. Acomodar as alterações de currículo e de filosofia relativamente aos graus de ensino a atribuir, e acomodar as alterações de concepção, organização e gestão prescritas pelo RJIES, quase ao mesmo tempo, é algo que as tem mantido copiosamente ocupadas
E no entanto, nessa ocupação de trilhar o caminho que por força da lei imperiosamente tem de ser trilhado, importa não perder de vista o seu sentido, e para onde conduz. Ao mesmo tempo que se vivem tais tempos de mudança, e precisamente por isso, é preciso reflectir sobre o futuro da universidade em geral, e sobre o lugar que a UBI ocupará neste, em particular.
Não pode esse debate ser um monólogo, passe o oxímoro. Deveria antes ser, pela sua natureza, um processo aberto ao contributo de todos os que serão chamados à sua realização. Que universidade para o século XXI é uma questão fulcral deste e do outro lado do atlântico. No caso da UBI, que não pode perder de vista a questão anterior, juntam-se à reflexão as questões mais específicas de saber que universidade, em Portugal, nas margens da Europa, no interior de um País marcado por fundas assimetrias e com recursos limitados.
Ninguém detém o exclusivo desta resposta – ela há-de ser dada por todos, no sentido do debate aberto e participativo de que falava, mas sobretudo num outro, mais complexo e profundo. Ainda que haja um plano, um desígnio, uma visão inspiradora, e uma liderança empenhada em realizá-la, o futuro resultará do cotejo entre este ideal, e aquilo que, ao nível das faculdades, unidades de investigação, departamentos, núcleos, cursos, até à última disciplina de opção, efectivamente for acontecendo. Ou seja, uma parte do caminho faz-se mesmo ao andar, e essa parte pertence a todos os que na UBI ensinam, investigam e estudam.
Para o futuro, também, será preciso enfrentar a delicada questão do financiamento. Quatro universidades públicas em sérias dificuldades, um politécnico sem verbas para pagar os subsídios de Natal, e provavelmente mais algumas na calha, compõem um quadro sobejamente conhecido. Ora neste incómodo domínio não se podem aceitar hipocrisias. O nível e qualidade de uma instituição de ensino superior estão directamente relacionados com o financiamento e o orçamento de que dispõe. Não se pode pedir sempre mais, oferecendo em troca cada vez menos. Basta lembrar os números recentemente avançados por António Nóvoa, da Universidade de Lisboa: o financiamento das 14 universidades portuguesas (650 milhões) é inferior ao da Universidade holandesa de Utrecht, que tem uma dimensão semelhante à da Universidade do Porto (700 milhões).
“A UBI é prova de um trabalho lento e consolidado”, diz o ilustre entrevistado deste Urbi. É verdade. Cada vez mais os nossos alunos se apresentam com orgulho, e como uma mais-valia dos seus currículos, pelo facto de terem estudado aqui. A universidade está a mexer, e todos podem sentir orgulho em ser colegas, professores ou alunos dos que estão a medir a altura do Kilimanjaro, a ganhar prémios de moda, a criar software médico, a patentear sistemas de armazenamento de energia, a encetar parcerias de investigação com a Siemens, ou a levar o empreendedorismo ao tecido económico da região. Fragmentos das múltiplas faces da diversidade e vitalidade de uma das mais jovens universidades públicas portuguesas.
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