Monólogo infeliz de rir
“Começar a Acabar” foi o espectáculo que marcou início de mais uma edição do Festival de Teatro da Covilhã. Encenada, traduzida e interpretada pelo actor João Lagarto, este trabalho dramatúrgico tem como autor Samuel Beckett.
> Joana MonteiroNuma sala praticamente cheia, João Lagarto subiu a um palco escuro, num cenário vazio iluminado por duas lâmpadas enormes.
“Começar a Acabar” é um monólogo em que um homem de aspecto sujo e desleixado, aparentemente um mendigo, se dirige directamente ao público para contar a sua história. Trata-se de uma história de vida infeliz, cuja primeira frase prende o público: “em breve estarei morto finalmente apesar de tudo”. Esperando a sua morte, o protagonista relembra aspectos da sua vida, a relação conflituosa com o seu pai, a ternura pela sua mãe mas com a qual nunca se conseguiu entender e o facto de nunca ter amado ninguém o que o levou a acabar os seus dias sozinho.
São 80 minutos de um discurso acerca duma vida infeliz, mas que tem como objectivo fazer rir o público de início ao fim. Na pele de um mendigo de alma, João Lagarto acaba por interagir com o público quando algum ruído interfere com as suas falas encontrando nestes improvisos um escape a lapsos de memória.
Samuel Beckett, autor deste monólogo pretende fazer rir tendo em conta que “não há no mundo nada mais cómico que a infelicidade”. Foi este o objectivo da comunhão entre o monólogo da autoria deste dramaturgo e a interpretação do seu amigo e actor Jack Makgowran.
João Lagarto conseguiu o pretendido, fazer rir a sala do Teatro das Beiras. No final recebeu uma afectuosa salva de palmas duma sala cheia que se despediu, aplaudindo o actor de pé.
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