Trabalhar em conjunto e afirmar a ética

“A união faz a força.” O ditado popular exprime um princípio de acção válido não só para a vida individual mas também para iniciativas de carácter regional. São de referir dois casos de candidaturas comuns ao QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional).
O primeiro diz respeito ao eixo Guarda-Covilhã-Fundão-Castelo Branco. O segundo abrange os municípios do Douro Superior e da Beira Interior Norte. Tratam-se de candidaturas abrangentes nas áreas da cultura, do património e do turismo.
As quatro cidades da Beira Interior pela primeira vez uniram vontades e esforços para apresentarem ao QREN uma candidatura única com o nome de Rede Património de Cidades.
A candidatura promove as quatro cidades com elementos de atracção. O eixo sai altamente valorizado a nível de competitividade e de criação de empregos. O investimento anda pelos 15 milhões de euros e, caso seja aprovado, contará com 70 por cento a fundo perdido.
Os projectos previstos contemplam as quatro cidades. Na Covilhã, figuram a formação em pareceria com a UBI, elaboração de áudio-guias, rotas urbanas e o elevador Parque da Goldra – Rua Marques Ávila e Bolama. O Fundão assume, entre outros, os projectos das Tradições Digitais, a Requalificação do Largo da Estação, o Espaço Museológico da Linha da Beira Baixa e a recuperação do Convento de Santo António. Castelo Branco vai aplicar as verbas na valorização da zona quinhentista, criação do Museu-Oficina do Bordado e do Edifício da Fronteira em colaboração com o Centro de Estudos Ibéricos da Guarda.
A cidade egitaniense candidata o Centro de Interpretação do Mundo Romano, a Casa da Memória da Identidade e património, Requalificação do Castelo, Julgamento e Morte do Galo do Entrudo e grande portal das cidades da Beira Interior - Guarda Digital.
As autarquias raianas apresentaram projectos ao Programa Operacional Transfronteiriço, sucessor do INTERREG. Para melhor distribuição dos fundos, associaram-se com os ajuntamientos espanhóis da fronteira e criaram Agrupamentos Europeus de Cooperação Transfronteiriça. Os projectos incluem o Plano Estratégico de Promoção Turística do Vale do Côa e a reactivação da Linha do Douro entre o Pocinho e Barca de Alva.
Temos, com estes dois casos, caminhos novos a explorar para o desenvolvimento das regiões, em clima de tolerância e colaboração com vantagens óbvias. Todas as cidades beneficiam e os fundos de Bruxelas são distribuídos de forma mais equitativa.
Para o futuro, as autarquias não podem olhar só para o umbigo e estão condenadas ao trabalho em conjunto, o que só as dignifica.
Há gestos que falam por si e nem precisam de palavras para os salientar. Mas o caso de Ramalho Eanes já comentado e que ultrapassa a vulgaridade. Por isso, é de consciência referi-lo em editorial.
O ex-presidente da República recusou, no ano 2000, a promoção a marechal. Aliás, ele próprio havia proposto este título aos seus antecessores não eleitos Spínola e Costa Gomes.
Em 1984, Ramalho Eanes promulgou uma lei que se aplicava a si, impedindo o Presidente da República de acumular o seu vencimento com outra reforma do Estado. O Primeiro-ministro era Mário Soares. Agora, José Sócrates reparou a injustiça, 14 anos depois.
Ramalho Eanes recusou os retroactivos a que tinha direito no valor de um milhão e 300 mil euros. Por uma questão de ética e dignidade.
Nestes tempos em que a honra e os princípios contam pouco, a atitude de Ramalhos é uma interpelação à sociedade portuguesa. O general mostrou que é um Homem de carácter íntegro e recto.
Afinal, a ética ainda mora entre nós não obstante haver gente de pouca vergonha e de corrupção sofisticada.