Voltar à Página da edicao n. 452 de 2008-09-23
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> <strong>José Geraldes</strong><br />

Praxes: a cultura da baixeza

> José Geraldes

Com a abertura das aulas nas universidades e politécnicos e, após as colocações dos “caloiros”, é impossível não falar das praxes. Praxes que constituem um fenómeno único em Portugal como forma de integração dos alunos no ensino universitário. Na Europa, a integração faz-se de outra forma mais civilizada. Com iniciativas culturais e sessões de acolhimento.
Ainda estão na nossa memória cenas de praxes que roçaram os limites da barbárie. Basta lembrar dois casos por serem mais significativos. Um o da “violação” de uma caloira em Braga por um “veterano” e o outro o da estudante da Escola Agrária de Santarém praxada com excrementos.
O caso de Santarém foi parar ao tribunal. Os sete membros da comissão da praxe foram condenados por crimes de ofensa à integridade física agravada e coacção. Tratou-se de um julgamento inédito e a primeira vez que uma praxe foi julgada num tribunal.
Agora o novo Código Penal prevê crime de omissão para as universidades e politécnicos. As instituições do ensino superior que dêem cobertura a praxes violentas podem ser condenadas em tribunal. Ou seja com o novo código passou a estar incluída a responsabilidade penal da pessoa colectiva. Uma universidade ou um politécnico tem de se responsabilizar pelo acontece nas suas instalações.
Dada a importância do problema, o ministro do Ensino Superior Mariano Gago enviou uma carta aos órgãos representativos universitários públicos e privados em que avisa tolerância zero para as praxes violentas e a responsabilização civil e criminal para quem não impeça actos ilícitos. Escreve o ministro : “A extraordinária gravidade de algumas ocorrências verificadas de que resultou, nalguns casos, a própria incapacidade permanente de jovens estudantes, impõe, hoje, uma nova atitude nesta matéria e não permite qualquer complacência com actos que revelam no espaço do ensino superior português insuportáveis violações do Estado de Direito”.  Só há que bater palmas à iniciativa do ministro.
Digam o que disserem, as praxes têm um forte acento fascizante e constituem uma violação clara dos direitos humanos. Por isso, um grupo de estudantes criou um movimento anti-praxe.
A forma como os que se dizem “veteranos” agem muitas vezes, anda pela boçalidade. Manuel Pinto, docente da Universidade do Minho, tocou na ferida, em texto de antologia, focando o protagonismo dos praxantes no Página 1, jornal digital da RR: “São figurões cujo currículo é terem chumbado muitas vezes. Quanto mais sornas, quanto mais incompetentes, quanto mais dissipadores dos dinheiros públicos, mais altos cargos, mais descarada desfaçatez”. E acrescenta o professor: “A verdade é que esses grupos de párias, escudados na conivência ou apoio das estruturas universitárias, incluindo as direcções associativas, em lugar de acolherem e de integrarem os caloiros (mas como pode acolher e integrar quem vive desfasado daquilo que pauta e marca a vida universitária?), submetem-nos a uma “cultura” de baixeza, palavrão e obscenidade. E não durante uma semana ou duas mas arrastando-se praticamente ao longo de todo o ano, com a conivência de todos”.
E são estes alunos que um dia vão gerir os destinos do País como políticos ou como empresários. Com este caldo de cultura? Pobre País!
Claro que haverá praxes ou festas académicas de que a degradação está ausente. Mas só que não esteve na universidade por dentro desconhece os exageros. E o princípio da praxe é sempre o mesmo: a humilhação, a falta de respeito e um misto de selvajaria.
A conclusão de Manuel Pinto que identifica o nosso ponto de vista, serve de alerta: “É absolutamente monstruoso que aceitemos enquanto educadores e responsáveis, que sejam os calaceiros e parasitas a impor as suas regras”, “é uma vergonha para a Universidade e para o País”.
O ministro já deu as normas. Agora só resta que as universidades e politécnicos assumam as suas responsabilidades. E as associações e ditas comissões de praxe se interroguem sobre o que andam a fazer.
Os “caloiros” não tenham medo de déspotas a usarem métodos de inspiração fascista.

> pedro . manuel . albuquerque @ gmail . com em 2008-09-27 19:21:00
Fiquei surpreso com a forma leviana como o Sr. Conego se presta a esteriotipar e mesmo rotular de forma insultuosa pessoa que de forma voluntária aderem a uma prática. Mais me surpreende a falta de honestidade intelectual nos ditames emitidos por tantas pessoas com uma (suposta) superioridade moral e ética. No entanto, eu um desses infames desgraçados que sou licenciado pela UBI, lá trabalho todos os dias muitas vezes 12 horas, com responsabilidades sérias perante contratos da minha empresa com nações europeis e não me sinto por isso superior seja a que nivel for sobre quem quer que seja. Mas para finalizar e perante o cenário proponho firmemente que toda e qualquer actividade relativa à praxe seja suspensa sine die...por certo os senhores que tão afoitamente se arrogam uma tão elevada superioridade etica e de comportamente, deveram ocupar-se com o tal acolhimento dos alunos e poderam assim provar que não são apenas palavras aquilo de que são capazes.


Data de publicação: 2008-09-23 00:00:00
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