Um beirão nos Paralímpicos
A 16 de Setembro Gabriel Macchi corre em Pequim a maratona nos jogos olímpicos de desporto adaptado. O objectivo, diz, era estar presente. Agora promete fazer o melhor possível, enquanto espera por apoios que melhorem as condições de treino.
> Notícias da CovilhãO avô, emigrante do Souto da Casa na Argentina, regressou às origens. E, aos 16 anos, Gabriel Macchi veio com o resto da família ter com ele. Na altura já praticava atletismo. Mas estava longe de imaginar que em 2008, com 36 anos, iria participar nos Paralímpicos, os Jogos Olímpicos de desporto adaptado.
O glaucoma juvenil e a miopia muito acentuada foram-se agravando e até chegou a deixar de correr. Mas foi motivado para voltar e o obstáculo transformou-se em oportunidade ao passar a competir, há dois anos, com pessoas com as mesmas limitações.
No currículo este licenciado em Educação Física, com especialização em Ensino Especial, tem três títulos de campeão nacional nos 5 e 10 mil metros na categoria T12. Ou seja, quem tem menos de 20 por cento de capacidade visual. A 29 de Agosto parte para Pequim, onde vai correr a maratona no dia 16 de Setembro.
Para já, é tempo de dedicação nos treinos diários, enquanto não está a dar apoio educativo a crianças. O objectivo, diz, está conquistado. Era a qualificação. Agora a preocupação é “ir e fazer o melhor possível”. Embora as parcas ajudas dificultem a tarefa.
Em pista prefere não levar guia. Já na estrada é imprescindível, porque podem aparecer barreiras. Mas não é possível fazer todos os treinos acompanhado. O treinador de sempre, António José Catarino, é quem costuma estar ao seu lado. Quando não é possível, vai na mesma treinar, em percursos que já conhece de cor. “Os passeios e degraus são os principais perigos”, refere. E é no corredor verde do Fundão, junto à zona industrial, que é habitual vê-lo correr.
Apesar da dificuldade em ver, sempre participou normalmente nas provas. “Quando era juvenil e júnior era bom atleta na região”, lembra. Depois, os estudos, a fragmentação do grupo de treino e a falta de estímulo levaram-no a parar, até voltar a correr há uns sete anos como sempre, mas com muita dificuldade em ver. Até que despertou para o desporto adaptado, onde conseguiu de imediato resultados.
Medalhas é assunto de que não fala. Até porque os Jogos Paralímpicos “têm vindo a ficar cada vez mais competitivos”. Na China conta com a colaboração de Catarino e do albicastrense Martin Nunes. Porque começando com um guia, tem de terminar o percurso com ele. Leva os dois para assegurarem todo o caminho, a quem vai estar preso por uma corda de 50 centímetros.
A marca, 2h37m11s foi conseguida na Maratona de Lisboa, embora tivesse também obtido mínimo para os 10 mil metros. Em Pequim espera encontrar poluição, humidade e calor. E a adaptação vai ser breve. Na semana passada chegou de um estágio em Tenerife, “insuficiente”, proporcionado pela Federação Portuguesa de Desporto para Deficientes. Por isso pretendia fazer outro, em altitude, nos Pirinéus, para se preparar convenientemente. Até porque não o consegue fazer por meios próprios.
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