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> <strong>José Geraldes</strong><br />

A Casa-Museu e a obra e um futuro santo

> José Geraldes

A inauguração da Casa-Museu onde nasceu o Pe. Joaquim Alves Brás, em Casegas, constitui um acontecimento não só para a ridente aldeia mas também para o concelho da Covilhã.
O Pe. Joaquim Alves Brás está a caminho dos altares. O processo de canonização encontra-se bem encaminhado e já foram declaradas heróicas as suas virtudes. Ou seja o primeiro passo canónico para que Casegas tenha a alegria e a honra de ter um santo venerado em todo o mundo.
A Casa-Museu fica também assinalar na sua aldeia natal os 75 anos da fundação da Obra de Santa Zita, a primeira iniciativa a que se abalançou. Homem com têmpera de ferro e sempre determinado não cedia perante as dificuldades. Apesar de sofrer de uma coxalgia, ultrapassou todos os obstáculos para poder entrar no Seminário.
Por paradoxal que seja, é a coxalgia que vai determinar a criação da Obra de Santa Zita. Nomeado para o Seminário Maior da Guarda, Joaquim Alves Brás tem dificuldades em andar. Por isso, não pode acompanhar os seminaristas nos passeios dos domingos à tarde. Então, aproveita esse tempo para visitar os doentes no Hospital.
É aí que descobre dramas humanos com contornos de tragédia. Na Maternidade do Hospital, nota que há muitas raparigas vindas de casas de prostituição algumas portadoras de doenças venéreas. E depara com uma surpresa: 60 por cento destas jovens eram “criadas de servir” na linguagem da época.
A sua sensibilidade social e um sentido profundo de espiritualidade vêm ao de cima. Naquele ano longínquo de 1931, Joaquim Alves Brás vê desfilar diante dos seus olhos um cortejo de situações de empregadas domésticas exploradas e violadas por patrões sem escrúpulos e levadas para casas de prostituição.
Num afã de atalhar o problema, faz inquéritos para analisar melhor a extensão do drama. Escreve às autoridades a alertar para a situação. E inicia encontros com as “criadas de servir”.
Assim nasce a O.P.F.C. (Obra de Previdência e Formação das Criadas). A palavra "previdência" não aparece por acaso na designação da Obra. E que, exactamente, sem haver ainda segurança social nos moldes de hoje, o Pé Brás prevê uma medida para obviar às filiadas tranquilidade em caso de desemprego e nos cuidados de saúde.
Depois do Vaticano II, houve revisão dos estatutos e a palavra “criadas” deixou de existir, dada a sua conotação pejorativa. Aparece em substituição a expressão “auxiliares de família, isto é, pessoas dos sexo feminino que prestam serviços, sobretudo domésticos às famílias”. Os Estatutos de 1984 definem a obra como uma instituição de solidariedade social.
Hoje a Obra de Santa Zita está espalhada por todo o País e no estrangeiro.
“Como uma pequenina “bola de neve - a expressão é do próprio Pe. Alves Brás - a Obra parte da cidade mais alta de Portugal, começou a rolar pela Serra da Estrela e arrastada pelas águas do Mondego, chega à Figueira da Foz”.
A Covilhã foi a cidade a seguir à Guarda onde a O. P. F. C. se instala.
Também aqui muitas jovens foram recuperadas e readquiriram o respeito pela sua dignidade de pessoas.
A 75 anos de distância vemos que o Pe. Brás tinha uma visão de profeta.
A sua obra foi uma resposta oportuna na altura para um problema social.
Actualmente, a Obra de Santa Zita posiciona-se, de novo, como resposta ao acolhimento de crianças e apoio aos idosos.
Os grandes homens e os grandes santos têm sempre razão antes do tempo.
A Casa-Museu recorda o homem e a obra de largo alcance social que o Pe. Joaquim Alves Brás nos deixou.


Data de publicação: 2008-07-22 00:00:00
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