Na educação da criança, a apresentação de modelos a imitar faz parte de uma boa aplicação da pedagogia. Modelos que sejam expressão de actos de bondade, solidariedade e respeito pelos outros.
Muitas crianças decidem mais tarde o rumo das suas vidas pelos exemplos que lhes foram incutidos em pequeninos. Todos os livros e a prática da vida o confirmam.
Na Inglaterra, o jornal Daily Mail promoveu um inquérito a 300 professores sobre o impacto nas crianças dos famosos no seu quotidiano. A conclusão não podia ser mais devastadora.
Para os educadores, o exemplo do futebolista David Beckham e da sua mulher a cantora Victoria tem efeitos perniciosos. A razão prende-se com o facto de estas personagens fazerem passar a ideia de que é possível ser---se rico e famoso sem aplicação nos estudos e sem esforço.
O inquérito revela também que as crianças alimentam, em primeiro lugar, o desejo de serem futebolistas e estrelas pop. E as que manifestam esta vontade com mais intensidade, negligenciam os estudos e imitam os piores hábitos dos seus ídolos. Uma professora de uma escola primária escreve mesmo: “Tenho visto frases e comportamentos de celebridades reproduzidos no recreio da escola, em concursos de talentos, incluindo gestos perturbadoramente inapropriados para a idade”.
Sem pretensões de moralismo, ninguém contesta que a influência dos famosos pode causar perturbações nas crianças e nos jovens. Preciso é os educadores estarem atentos para fazer ver a realidade do mundo e das coisas.
A tarefa não se afigura fácil muitas vezes. Até porque a televisão que mostra as “estrelas”, exerce um forte poder de influência. E, como diz Edgar Morin, concretiza-se o mecanismo da projecção e da identificação.
As famílias não podem ser isentas de responsabilidade pelo facilitismo que transmitem aos filhos. E, nas sociedades abertas, a educação torna-se mais difícil. O que requer dos educadores uma atenção mais disponível. Parafraseando uma frase célebre sobre o valor de um trabalhador, a educação de uma criança vale todo o ouro do mundo.
Mas há um dado consensual: precisa-se exigência no cumprimento dos deveres. Fala-se muito de direitos mas não se atribui aos deveres o mesmo grau de importância. A educação assim não atinge os seus objectivos.
“As palavras voam mas os exemplos arrastam” diz um velho ditado. Apresentar os heróis da história desperta na criança o desejo de ir mais além. Propor homens e mulheres como modelos que se notabilizaram pela virtude, pela responsabilidade e pela coragem, leva a um cumprimento mais rigoroso dos deveres. E elimina-se o ambiente de mediocridade que é um cancro no processo educativo.
A educação para os valores impõe-se como antídoto contra o facilitismo e a ilusão de que se pode ser famoso sem trabalho e sem sacrifícios. E é esta educação de que as nossas sociedades hoje precisam como do pão para a boca.
A fama passa, os valores ficam. Hannah Arendt escreveu como um tiro certeiro: “Nada neste mundo é mais efémero, menos duradouro e consistente do êxito que traz consigo a fama. Nada chega mais depressa mais facilmente do que o esquecimento”.
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