Voltar à Página da edicao n. 438 de 2008-06-17
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
Director: João Canavilhas Director-adjunto: Anabela Gradim
 
 “O jornalismo é um serviço que se presta, é estar ao serviço dos outros”

“Realizei-me em três paixões: na paixão como padre, na paixão como jornalista e na paixão como docente”

José Geraldes, director do Notícias da Covilhã, faz um balanço da sua vida no ensino, no jornalismo, e na igreja, numa fase diferente da sua vida.

> Raquel Carvalho

Urbi@Orbi -Dedicou várias décadas ao jornalismo. Que balanço faz dessa actividade?
José Geraldes –
Faço um balanço bastante positivo, quer na prática profissional quer no ensino. Já pratico jornalismo desde a juventude. Fui director de uma revista no seminário da Guarda, e a partir dessa altura nunca mais deixei de escrever em jornais, tendo também ocupado cargos na direcção de jornais.

U@O -Neste espaço de tempo alargado que vem dedicando ao ensino, que alterações nota?
J.G –
Apanhei um certo choque porque os alunos não tinham uma boa preparação de base, os alunos escreviam mal o português, inclusivamente comecei a pontuar. Também me pareceu que a cultura geral não era muita boa. Já em 1989 se notava que essa cultura deixava muito a desejar, quando o jornalista deve ter uma cultura de base que é fundamental, geral, básica para praticar essa profissão.

U@O -Esse tipo de alterações está relacionado na sua perspectiva com quê? Com a evolução dos meios? Com uma sociedade mais informada?
J.G –
Eu penso que está relacionado com a evolução natural das coisas e com a massificação do próprio ensino e da criação dos cursos de jornalismo. Estou convencido que muitos foram para o curso de Comunicação por pensarem que era mais fácil, enquanto outros foram por vocação. O ser jornalista exige uma série qualidades fundamentais, não se é jornalista porque se quer, porque pode não se possuir as qualidades necessárias para a prática do jornalismo. Creio que isto atraiu muita gente. Eu, no meu caso pessoal, fui para o jornalismo porque senti essa paixão, essa vocação, e senti esse gosto, que esta era uma das áreas onde eu me realizava. E realizei-me em três paixões: na paixão como padre, na paixão como jornalista e na paixão como docente.

U@O -O jornalismo há um tempo atrás era visto como uma das profissões mais credíveis e respeitadas, e agora tem vindo a perder isso. Como vê essa situação?
J.G –
Antigamente não havia cursos de comunicação nem de jornalismo. Os jornalistas aprendiam na chamada tarimba das redacções, vinham para as redacções e aprendiam com os mais velhos a fazer as notícias. Começavam pela necrologia e notícias de polícias para praticarem a exactidão, o rigor e os pormenores todos.
Depois da criação dos cursos de comunicação e de jornalismo é que os jovens, os licenciados começaram a ir para as redacções fazerem estágios. Tinha um valor positivo porque os licenciados vinham com uma bagagem cultural que antigamente não existiria. Hoje os mesmos licenciados trazem uma bagagem cultural razoável, mas a cultura geral continua a deixar a desejar, há coisas básicas que muitos licenciados desconhecem e que são fundamentais para o exercício da profissão. Agora, os licenciados fazem o seu estágio nas redacções e essa bagagem cultural ajuda-os à prática do jornalismo, mas muitas vezes também não haverá aquela aplicação que era necessário ter nas redacções, pois os jornalistas não têm tempo para os ajudar, e também muitos jornais utilizam os estagiários como mão de obra barata. Ora, um estagiário licenciado precisa de ter um acompanhamento em todos os aspectos porque os licenciados vêm de facto com a teoria. O jornalista define-se com prática, prática, prática, é escrevendo que se aprende com base nos ensinamentos. Hoje, penso que as coisas estão melhores, mas há um aspecto que me preocupa, que é a questão ética. Creio que às vezes há uma certa tendência para dar mais importância a problemas sensacionalistas e esquecer aqueles problemas fundamentais da sociedade.

Em Portugal, a palavra Comunicação Social é muito usada

Vou sentir a falta dos alunos, pois foram para mim uma mais valia

Perfil de José Geraldes

> miguelpsousa2 @ hotmail . com em 2008-06-19 09:45:02
Chamo-me Miguel Ângelo, frequentei a Universidade da Beira Interior entre 1989/90-1995.Fui, também, aluno do professor José Geraldes, na disciplina de língua e cultura portuguesa do curso de comunicação social. Ao ver esta entrevista recordo-me, sobretudo, das suas aulas, da forma persistente de como tentava amiúde corrigir-nos, do gosto que nutria pelos autores e correntes da língua e cultura portuguesa. Por isso e pela sua amizade pelo ensino devo-lhe uma palavra de agradecimento. Bem haja.


 “O jornalismo é um serviço que se presta, é estar ao serviço dos outros”
“O jornalismo é um serviço que se presta, é estar ao serviço dos outros”


Data de publicação: 2008-06-17 00:10:00
Voltar à Página principal

2006 © Labcom - Laboratório de comunicação e conteúdos online, UBI - Universidade da Beira Interior