Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 438 de 2008-06-17 |
O Maio 68 foi há 40 anos. A sociedade francesa e ocidental tremeu com a revolta iniciada pêlos estudantes universitários de Nanterre. A França parou, abriu-se uma crise política e o movimento galgou as fronteiras da Europa e atingiu o Japão.
Para a história, ficaram frases emblemáticas: “Imaginação ao poder”, “é proibido proibir”, “abolição da sociedade de classes” e “não tomem o elevador, tomem o poder”. Novos costumes se introduziram nos hábitos sociais, a universidade sofreu um abanão e a forma de fazer política também mudou.
A Igreja francesa fez uma reflexão profunda sobre a contestação estudantil que se estendeu a todos os níveis sociais. E não faltou quem inclusivamente citasse a célebre frase de Santo Agostinho a propósito das invasões dos bárbaros: “É um novo mundo que começa.”
Que os costumes se liberalizaram em consequência deste movimento, não restam dúvidas. Que os exageros se introduziram sem controlo nos comportamentos, é facto que não se discute. Que novas ideias ditaram novas soluções para problemas antigos, todos o admitem. Que a sociedade mudou, é ponto assente.
Passados 40 anos, o grande sonho dos contestatários de Nanterre de salvar o mundo tomou-se mais linear. E os que arrancaram pedras da calçada do Boulevard Saint-Michel em Paris, são hoje os novos burgueses de uma sociedade burguesa e hedonista que, afinal, surgiu dos seus ideais de fervor revolucionário. E, um dos seus ícones, Daniel Cohen Bendit figura como um deputado pacífico e ecologista.
E a história sempre prega partidas inesperadas. E é um presidente da República francesa, filho de imigrantes húngaros, Sarcozy que anuncia querer liquidar a herança de Maio 68, pois não corresponde aos anseios da modernidade.
E são os próprios protagonistas do movimento que admitem falhas.
Colette Kerber, 59 anos, fundadora da livraria parisiense com o seu nome, confessa em entrevista ao Expresso (3 Maio 2008): “Fiz algumas asneiras graves, designadamente na educação do meu filho. Dei-lhe uma educação onde não havia limites e só muito tarde compreendi que as crianças têm necessidade de ter limites.”
E a seguir: “Cometemos erros gravíssimos que desorientaram os nossos filhos, deixámo-los demasiadas livres, sem autoridade desde muito cedo.
Nesse aspecto falhámos.” E uma observação: “Na época, existia uma geração privilegiada, havia emprego. Hoje há angústia e os jovens só pensam no seu futuro relacionado com o trabalho. (...) Os jovens pedem o contrário do que pedíamos: mais ordem, mais disciplina, pensam na formação para trabalharem.”
Sem negar que o Maio 68 deixou “heranças importantes”, a entrevistada reivindica que “a sociedade de consumo aproveitou muitas das nossas ideias.”Já Marie-Laure, de uma geração mais nova, declara, com frontalidade, no espírito herdado do Maio 68: “Eu sou antífeminista contra esses movimentos que me fazem lembrar os da defesa dos animais.
Reivindico que sou um ser humano igual aos homens.”
Duas mulheres, um ponto de vista sobre Maio 68: as falhas na educação.
A educação é a pedra de toque na formação dos cidadãos. Falhar na educação líquida de vez a missão mais nobre do homem e o futuro da sociedade. Toistoi escreve com lucidez: “Um povo educado sabe evitar a libertinagem que degenera em anarquia mas o mesmo povo, sendo educado, nunca será um escravo dócil.”
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