Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 437 de 2008-06-10 |
Políticas culturais discutidas na UBI
O primeiro colóquio sobre as relações culturais entre Portugal e África abriu novas vias de acção neste campo. Escritores, investigadores e docentes pedem uma política de divulgação das culturas africanas e uma maior partilha de laços culturais entre os países lusófonos.
> Eduardo AlvesA mesa de debate já no final do dia foi o ponto alto do primeiro colóquio internacional “Pontes para Futuro”. Um evento promovido pelo Departamento de Letras da UBI, que juntou na Covilhã escritores portugueses e africanos. Deste encontro saíram algumas conclusões que podem apontar novos sentidos de orientação das políticas culturais e também editoriais.
Uma das mais importantes constatações a que os participantes chegaram “passa precisamente pelo facto de, neste momento, não existir uma vontade ou uma coordenação política para divulgar os escritores africanos em Portugal”, diz Cristina Vieira, docente da UBI e uma das organizadoras do evento. Durante todo o dia, foram vários os intervenientes que, nas suas comunicações, apontaram o “fraco” desempenho, sobretudo do Instituto Camões, no que respeita a uma maior sustentação dos laços culturais com os países africanos. Um facto “que acaba por ser negativo para todos”, lembra a docente, uma vez que “quer os escritores africanos, quer os portugueses, acabam por não ser devidamente divulgados em muitos países que têm línguas e culturas semelhantes”, acrescenta.
João Maimona, um dos escritores angolanos presentes no evento aponta o seu próprio caso. De entre as vastas obras escritas até agora “nenhuma é publicada em Portugal”. Pepetela e Agualusa, seus compatriotas “têm a sorte de estar publicados em Portugal e conseguirem divulgar a literatura angolana”, mas “existem muitos outros escritores que acabam por não ser conhecidos porque não são editados”, remata. Cristina Vieira sublinha que “há aqui qualquer coisa que está a falhar, é um tesouro que neste momento está a ser desperdiçado”.
Um dos pontos de convergência entre as comunicações apresentadas na Covilhã foi o facto de “não existir uma cultura africana”. Grande parte dos intervenientes apontou para a existência de identidades próprias de cada país africano “ao contrário do que muitas vezes se tenta passar”, e durante a mesa redonda “foi mesmo negada a existência de tal identidade”, esclarece Cristina Vieira.
Salvato Trigo, reitor da Universidade Fernando Pessoa e considerado por muitos, o decano português em matéria de assuntos africanos, lembrou os mais recentes conflitos étnicos que tiveram lugar na África do Sul, precisamente para demonstrar “que os povos africanos não se reflectem numa figura homogénea, num todo, onde não existem diferenças”. Também Germano de Almeida, escritor cabo-verdiano reforçou a ideia de uma cultura nacional presente “num continente imenso”.
O novo acordo ortográfico e a presença de escritores e investigadores de São Tomé e da Guiné foram também assuntos em destaque. Segundos os organizadores deste encontro, está já a ser preparada uma segunda edição que deverá ter lugar em 2010.
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