Voltar à Página da edicao n. 437 de 2008-06-10
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Gonçalo quer tornar-se a capital da cestaria em Portugal

Museu e Centro de Certificação para dinamizar a cestaria

Em Gonçalo, há mais de 500 pessoas que sabem a arte da cestaria, mas só duas centenas a praticam. Para inverter esta tendência, a Junta quer criar um museu e um Centro de Certificação.

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Um museu e um Centro de Promoção e Certificação da Cestaria vão ser criados em Gonçalo, para dinamizar o sector que é considerado o "principal motor" da economia desta freguesia do concelho da Guarda.
Segundo o presidente da Junta, Pedro Pires, mais de 500 habitantes sabem a arte de trabalhar o vime e a verga, mas neste momento, só cerca de duas centenas a praticam, pelo facto de a actividade não ser rentável devido à concorrência dos produtos dos países do Oriente. "Quando comecei a trabalhar na arte da cestaria, com 11 anos, éramos mais de 700 cesteiros no activo, mas a pouco e pouco deixaram de trabalhar por falta de encomendas", refere o artesão Fernando Nelas, 54 anos.
Com o objectivo de relançar o sector, a autarquia lançou um desafio a todos os Politécnicos e Universidades do país a pedir apoio na elaboração do projecto do museu da cestaria que deverá ser candidatado ao QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional) e lançada "o mais tardar em 2010". O repto foi aceite por alunos das Universidades do Minho e de Coimbra que estão a ultimar os projectos que deverão, em breve, ser analisados por uma equipa técnica da Câmara Municipal da Guarda. "Já nos foi entregue a proposta de uma jovem arquitecta da Universidade de Coimbra e ficámos surpreendidos pelo conteúdo funcional e com o alcance da ideia", salienta o autarca à Lusa. Pedro Pires explica pretender que o edifício "seja igual a uma mala de forma" (cesto típico com duas asas na parte superior e quatro pernas para o suportarem). "Gostaríamos que o museu tivesse essa forma para nos possibilitar que, no primeiro piso, que ficaria aberto, pudéssemos colocar uma plantação de vime, para explicar aos visitantes todos os processos por que passa até ser utilizado na cestaria", adianta. Para o futuro museu, aponta também a criação de um espaço para "mostrar todos os modelos existentes, cerca de 150 peças, e fazer uma pequena biografia de cada peça". Acrescenta que também terá uma forte vertente pedagógica, apostando na interactividade com crianças e jovens, possibilitando que eles próprios sejam "cesteiros" por alguns momentos.
A construção do museu está dependente da criação do Centro de Promoção e Certificação da Cestaria de Gonçalo, que surgirá através de um projecto-lei a aprovar pela Assembleia da República. "É um projecto em que nos envolvemos [Junta de Freguesia] com a deputada do PS eleita pela Guarda, Rita Miguel, e que queremos que seja uma realidade em breve, porque o centro será um pólo que nos permitirá abrir portas e janelas para outros projectos, nomeadamente para a candidatura do próprio museu ao QREN", observa. O autarca explica que o centro dedicado à cestaria de Gonçalo terá um enquadramento legal próprio, e "uma participação muito grande da parte do Governo, envolvendo os Ministérios do Trabalho e da Cultura, a Câmara Municipal da Guarda, a Junta de Freguesia e um representante dos artesãos".
No fundo, admite tratar-se de "uma lei de protecção para a cestaria de Gonçalo, pois só com um instrumento de trabalho desta natureza, será possível relançar o sector, apostando em novos modelos, em novas linhas mais adaptadas ao mundo actual". "Ajudar-nos-á a desenvolver uma estratégia de relançamento das vendas e das linhas de produção, sem desintegrar os cesteiros do seu meio, mas permitir que eles produzam e nós [Centro de Promoção e Certificação da Cestaria] possamos fazer a gestão das vendas". Pedro Pires recorda que a autarquia já está a dar um contributo importante nas vendas dos artigos produzidos na vila, com a criação de um portal , "que é um sítio electrónico de comercialização de cestos via Internet". O site está a ser gerido pela autarquia "que vai distribuindo as encomendas pelos vários cesteiros, consoante a tipologia e as peças pedidas". "Têm-nos chegado muitas encomendas", garante, explicando que a Junta "desvincula-se do processo quando passa a encomenda para o artesão".A vida económica de Gonçalo pulula em torno deste sector, existindo alguns cesteiros que comercializam os seus produtos para países da Europa e de África. A terra é considerada "o berço" da cestaria em Portugal e ostenta o epíteto de "capital da cestaria". Cestas e cestos diversos, cadeiras e peças de mobiliário, são alguns dos muitos artigos que continuam a ser produzidos pelos artesãos. O cesteiro Fernando Nelas explica que o sector está em crise porque "com a modernização, as pessoas deixaram de utilizar os utensílios em cestaria, para transportar as merendas e as sementes para a terra, e passaram a utilizar os plásticos". Por outro lado, aponta que "com a entrada em Portugal de produtos chineses, a cestaria entrou em decadência" porque esses artigos "são vendidos a preços mais baixos". Assume que os mais novos deixaram de se dedicar à arte, pelo facto de ser "uma vida dura" e refere que "o cesteiro mais novo é o meu empregado que tem 38 anos". "É dos artesanatos mais difíceis. Passamos meio ano a trabalhar com a água nas pernas e nas mãos", disse, explicando que o vime após o corte, passa por várias fases e, uma delas, implica que "seja mergulhado num tanque com água, para ficar mole e poder ser trabalhado". Em terra de cesteiros, a arte está sempre presente, mesmo no principal largo da vila onde existe um monumento ao artesão e é garantido ao visitante que "cesteiro que faz um cesto, faz um cento, dêem-lhe vime e tempo".


Gonçalo quer tornar-se a capital da cestaria em Portugal
Gonçalo quer tornar-se a capital da cestaria em Portugal


Data de publicação: 2008-06-10 00:02:23
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