Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 433 de 2008-05-13 |
“Se uma árvore caiu e ninguém viu nem ouviu, então a árvore não caiu”. A frase é atribuída a um frade que viveu na Idade Média, mas está hoje mais actual que nunca. Efectivamente, a percepção que temos da realidade é mediada por uma comunicação social forte e omnipresente que chega até nós de todas as formas e a todo o momento.
São cada vez menos as pessoas que compram jornais, mas os transportes públicos são hoje um local de leitura para milhões de pessoas graças à oferta de jornais gratuitos. Para os que se deslocam de carro para o emprego, a rádio vai debitando informação e durante as refeições a televisão ocupa um lugar de destaque nos restaurantes e nos lares dos portugueses. E se os meios tradicionais já nos ofereciam um fluxo contínuo de informação, com a popularização dos acessos à Internet e dos telemóveis o nosso contacto com a informação passou a ser permanente. A avalanche informativa dá-nos uma sensação de ubiquidade, oferecendo-nos a possibilidade de acompanhar simultaneamente os sismos na China, as eleições nos Estados Unidos e a divulgação dos seleccionados de Scolari para o Europeu 2008. Na maioria dos casos ouvimos a notícia e, sem grandes reservas, assumimos a informação como se tivéssemos presenciado os acontecimentos em causa. Muitas vezes, imagine-se, até assumimos posições públicas em relação a determinadas questões simplesmente com base no que vimos, ouvimos ou lemos na comunicação social.
Este poder de mediar a realidade dá aos meios de comunicação um lugar central nas sociedades contemporâneas, a ponto de ser considerado como um quarto poder, logo depois do Legislativo, Executivo e Judicial. A verdade é que os tradicionais “três poderes republicanos” vivem hoje uma profunda crise, condicionando muitas vezes a sua actuação ao escrutínio da comunicação social. Não é pois de estranhar que alguns políticos se preocupem mais com a comunicação social do que com a oposição …
Seguindo a velha máxima, “se não podes com eles, junta-te a eles”, foram surgindo os meios de comunicação governamentais (ou governamentalizados), os assessores de imprensa e, a versão mais soft, os órgãos de comunicação institucionais/empresariais que funcionam como fontes primárias para os meios de comunicação mainstream.
Neste último caso, o problema é que ser dono de um órgão de comunicação digno desse nome não está ao alcance de qualquer um e ter dinheiro não é condição essencial. O sucesso de um órgão de comunicação depende do prestígio do seu proprietário, da coragem de quem o dirige e da qualidade e honestidade de quem o faz. São muitas exigências em simultâneo e o pior é que a tudo isto ainda é preciso juntar tempo, muito tempo durante o qual estas condições não se podem alterar. Ainda recentemente esteve em leilão o que resta d’O Independente. Qual era o maior valor em praça? Um bem intangível: o título. Tal como um bom-nome é a riqueza de qualquer Homem, um bom título é um bem inalienável para qualquer organização, pois pode depender da informação por ele veiculada a imagem pública dessa mesma empresa ou instituição.
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