Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 431 de 2008-04-29 |
Informáticos no mundo da medicina
A paixão pelo mundo da informática levou-os até à licenciatura em Engenharia Informática, na UBI. No projecto de final de curso quiseram aplicar as suas ideias à área da Medicina e desenvolveram um programa capaz de ajudar nos exames de gastrenterologia. O “Doctor Help” é um software único que vai já começar a ser comercializado.
> Eduardo AlvesJoão Casteleiro e Nuno Nobre partilharam as carteiras da Universidade da Beira Interior nos últimos anos. Ambos alunos de Engenharia Informática e ambos a residir na região, o João, natural da Covilhã e o Nuno, do Fundão. A escolha pela UBI “foi imediata, para além da proximidade, conhecíamos também as potencialidades da instituição”, começam por dizer os jovens. Daí que a decisão de continuarem a estar na região “tenha sido fácil”.
No final do curso decidiram juntar as ideias e criar um programa inovador capaz de detectar pólipos e hemorragias através de um exame endoscópico. Este projecto “consistiu na construção de um sistema capaz de detectar pólipos, úlceras e hemorragias em vídeos realizados ao aparelho digestivo e surge aliado ao aparecimento de uma nova tecnologia no mundo, a denominada “cápsula” que é agora utilizada na realização de endoscopias digestivas”, explica João Casteleiro. Surgiu assim o “Doctor Help”, precisamente porque o objectivo principal passa por “ajudar e facilitar o trabalho dos médicos”.
Um projecto que saltou dos computadores e das teorias destes dois alunos, “muito pela ajuda do serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar da Cova da Beira e do professor Luís Alexandre, do Departamento de Informática da UBI”, directamente para o terreno e para a aplicação prática do programa. A ideia começou a ganhar forma com uma nova tecnologia que agora começa a ser difundida na detecção e tratamento de doenças oncológicas na área da gastrenterologia. “Em vez dos tradicionais exames endoscópicos, os pacientes podem engolir uma pequena câmara de vídeo, em formato de comprimido, a qual vai percorrer toda a zona a ser observada e fazer um filme. É precisamente esse filme que vai ser analisado pelo programa de computador desenvolvido pelos dois alunos, o qual vai detectar alguma anomalia no organismo, através da análise das imagens”, explica João Casteleiro.
O projecto que começou a ser desenvolvido na UBI há cerca de um ano e meio tem tido alguma relevância no meio científico. “A nossa motivação surge nessa informação, pois o vídeo resultante pode ser bastante longo para que um médico possa perder tempo a visualizá-lo na totalidade, assim, desenvolvemos um software capaz de interpretar o vídeo e identificar zonas suspeitas, isto é, zonas com potencial aparecimento de patologias (úlceras, hemorragias e pólipos)”, adiantam. As abordagens do programa às imagens resultantes desse vídeo passam por extrair a textura, os contornos e a cor de um pólipo ou de uma úlcera, por exemplo e destacá-los de entre as restantes imagens para que o profissional de saúde consiga ter a noção de que existem ali situações anormais.
“Primeiramente começamos por aplicar uma técnica que existe na Informática que passa por reconhecer padrões de comportamento num objecto, depois foi uma questão de adaptar isso aos nossos objectivos. Usámos também toda a literatura que existe à volta dessa área para tentar desenvolver alguns algoritmos e conseguimos criar um programa capaz de detectar alterações no organismo”, acrescenta Nuno Nobre.
Com o apoio do serviço de gastrenterologia do CHCB, os dois jovens conseguiram imagens de vídeo que compunham alguns exames efectuados na unidade hospitalar e passá-las pelo programa. “O resultado foi muito positivo”, diz João Casteleiro. A provar isso mesmo “estão os dois trabalhos científicos publicados na China e na Polónia, baseados nesta nova ferramenta e também a comercialização do programa”, sublinha Nuno Nobre.
Actualmente os dois jovens de 24 anos encontram-se a frequentar um doutoramento na área da Informática no Instituto Superior Técnico. Uma mudança que se deve essencialmente “ao facto de querermos conhecer novas perspectivas e métodos académicos e também aprofundar uma área que ainda não está muito explorada que se prende com a informática na saúde”. Para o futuro, o espírito empreendedor destes jovens leva-os a pensar “na criação de uma empresa e no desenvolvimento de novas tecnologias para a área da Saúde”.
Multimédia