Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 430 de 2008-04-22 |
Despedimentos da Delphi serão “rombo” na economia local
Este ano estão previstos cerca de 524 despedimentos na multinacional de cablagens Delphi. Na cidade, já se pensa nisso e entre comerciantes e consultores imobiliários, a opinião é unânime: será um “rombo” na economia da Guarda e da região.
> Notícias da CovilhãComerciantes e empresários da Guarda acreditam que o despedimento de 524 dos mil trabalhadores da empresa Delphi, previsto para este ano, será um "rombo" para a economia da cidade e da região. Comerciantes e consultores imobiliários da cidade ouvidos pela Lusa são unânimes em afirmar que os despedimentos vão agravar a vida "de muita gente" e "complicar" os respectivos sectores.
A empresa multinacional de componentes automóvel Delphi está instalada na Guarda-Gare, uma zona da cidade também conhecida por Estação, nas antigas instalações da antiga Fábrica Renault e é a maior unidade empregadora do concelho. "Os despedimentos vão complicar a vida de todo o comércio", vaticina José Fonseca, proprietário de um café localizado no Largo da Estação, em frente da entrada principal da fábrica. O comerciante assegura que, no seu caso, o futuro do negócio não se afigura risonho porque "60 a 70 por cento dos clientes são trabalhadores da fábrica".
Maria dos Anjos, dona de um mini-mercado, também teme pelo futuro da sua casa. "Estou preocupada. Tenho muitos clientes que trabalham na Delphi e quando se concretizarem os despedimentos a clientela diminui e isso é mau para todos", refere. "Se não houver pessoal tenho que fechar. Sem clientes não podemos viver", diz.
O proprietário de uma peixaria no Mercado Municipal da Guarda-Gare, Bruno Luciano, também se mostra apreensivo, explicando que "cerca de 50 por cento dos clientes são funcionários da fábrica". Na sua opinião, os anunciados 524 despedimentos terão repercussões no negócio: "Já temos quebras devido à falta de poder económico e o custo de vida estar mais caro, mas quando isso acontecer, as coisas ainda ficarão mais agravadas". "Se a clientela baixar 30 a 40 por cento fecho a peixaria", diz, determinado. Bruno Luciano também se mostra apreensivo em relação ao futuro de muitos trabalhadores da unidade fabril, apontando que "há muitos casais que dependem da empresa, que compraram casa e carro". "Para a nossa cidade também vai ser muito complicado", conclui.
"Não temos mais indústrias na cidade e se a Delphi fechar, será muito complicado", aponta por seu turno Ana Maria, funcionária de uma loja de utilidades domésticas. Segundo a vendedora, os despedimentos irão afectar "directamente o negócio, porque se deixa de haver dinheiro, também não haverá compras".
A instabilidade económica criada pela situação da Delphi também é apontada como causa da uma diminuição na venda de casas. Daniel Augusto, sócio-gerente de uma imobiliária da Guarda, afirma que desde que foram anunciados os despedimentos, em Maio do ano passado, "já não temos vendido casas a pessoas que ali trabalham".
"Não têm aparecido muitos casos de dois clientes [casal] que trabalham lá", mas quando essas situações surgem e os compradores se dirigem às entidades bancárias, "não há grande receptividade e colocam logo entraves, porque há algum receio na análise desse tipo de processo", conta. Daniel Augusto acrescenta que na sua empresa, logo na qualificação dos clientes, "quando vemos que são dois trabalhadores da Delphi, a tentativa é saber se há fiador porque, à partida, é um processo que irá requerer isso".
Quem vende também tem pedido alguma celeridade na concretização dos negócios pelo "receio" de, a curto prazo, poderem existir "muitas casas para venda", diz. O responsável salienta que a procura de casa para compra, por parte de funcionários da fábrica, tem diminuído drasticamente, relatando que "há cerca de três anos, quando distribuíamos folhetos na zona da Estação, havia muitos contactos e, neste momento, não surtem efeito, são poucas as pessoas que nos contactam". Daniel Augusto prevê que quando os despedimentos se concretizarem, muitas famílias irão ter problemas financeiros porque diz conhecer casos de "prédios inteiros onde vivem pessoas que trabalham na Delphi".
A administração da empresa anunciou a 18 de Maio de 2007 que até ao final do ano iria despedir 524 dos actuais mil trabalhadores, mas com o aparecimento de uma encomenda da Roménia a sua concretização foi adiada para este ano, estando previstos para Maio, Julho e Agosto.
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