Centum Cellas: mais de uma década à espera do Centro Interpretativo

Os vestígios de ocupação romana, no concelho de Belmonte, são mais que muitos. Na Fórnea escava-se uma “villa” que, segundo a autarquia, se transformará num museu ao ar livre. No Colmeal existe a Torre de Centum Cellas, escavada há mais de 10 anos e que desde essa altura espera pela criação de um Centro Interpretativo.

Apesar da abundância de vestígios da ocupação romana no concelho, é, talvez, o símbolo mais importante dessa passagem por Belmonte. A Torre de Centum Cellas, em Colmeal da Torre, é um dos mais emblemáticos, mas ao mesmo tempo, segundo Helena Frade, arqueóloga responsável por diversas escavações ali realizadas, um dos monumentos mais enigmáticos existentes em toda a Beira Interior. Um local frequentemente visitado por turistas de todo o mundo, mas que continua à espera de uma estratégia de valorização.
De facto, em Centum Cellas, onde Helena Frade dirigiu várias campanhas de escavações arqueológicas entre 1993 e 1998, desde essa altura, pouco mudou. Foi instalada uma cerca que, de algum modo, protege as ruínas romanas, a vegetação vai crescendo e sendo limpa à medida que tapa os achados, mas o local continua à espera daquilo que foi prometido há quase 10 anos: um Centro Interpretativo.
Este seria um núcleo museológico que, de algum modo, iria explicar a quem por ali passa o que está perante a sua vista e onde também estaria exposto todo o vasto espólio que dali foi retirado. Um projecto que, contudo, continua esquecido há uma década, apesar de figurar sucessivamente nos Planos e Orçamentos da autarquia belmontense. Como acontece neste, em 2008. Será desta que a obra avança? A oposição social-democrata, na Assembleia Municipal, desconfia. E a população da freguesia não acredita. “Isto já morre assim” exclama um popular, mas que prefere não se identificar. E que, orgulhoso, lá diz que este é o monumento mais importante “do concelho”, mas que merecia outro tratamento. “No Verão, vai para lá uma malta que até com as motos entra lá para dentro” denuncia.
Ao que se apurou, a Câmara de Belmonte está em negociações com o IGESPAR, entidade responsável por este tipo de monumentos, para que este ano possa surgir o tal Centro Interpretativo. Fonte da autarquia confirma este atraso de uma década, que tem tido como causas, entre outras, as sucessivas mudanças de entidades que gerem este tipo de infra-estrutura e também a dificuldade em negociar com os proprietários terrenos vizinhos onde instalar o Centro. Segundo o presidente da Câmara, Amândio Melo, a ideia “está em aberto”, é um projecto para avançar, mas isso depende mais do IGESPAR, que tem responsabilidades no monumento, do que da Câmara. No entanto, “andamos a insistir” salienta.
A Torre de Centum Cellas é considerada Monumento Nacional desde 1927. É também conhecida como Torre de São Cornélio e situa-se numa área fértil próxima da confluência da Ribeira da Gaia com o Rio Zêzere. A sua funcionalidade foi aflorada por vários especialistas, que puseram a hipótese de se tratar de uma prisão, de um núcleo de acampamento romano ou albergaria para descanso dos romanos. Todavia, depois das escavações realizadas pelo IPPAR, entre 1993 e 1998, constatou-se que a Torre não se encontrava isolada, mas fazia parte de um conjunto estrutural mais amplo e complexo, com diversos compartimentos, salas, corredores, escadas, caves e pátios. Assim, a Torre revela-se a parte central e melhor conservada de uma “villa” que Lucius Caecilius mandou construir. Era um abastado cidadão romano que ali mandou edificar a sua residência, numa zona que se sabe que era rica no que diz respeito à exploração de minério. O resto da “villa” acabou por ser destruída com a construção da estrada que conduz à localidade de Colmeal da Torre. Ao redor da Torre pensa-se que existiriam umas termas que também terão sido destruídas com a plantação de vinhas e construção de algumas habitações.