Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 420 de 2008-02-12 |
É o título de um livro muito conhecido, assinado por Chantal Mouffe em meados da década de 90, em que a autora lamenta aquilo que chama de «elisão do político no discurso da modernidade», concepção que alia a um certo espírito “iluminista”, sempre pronto a decretar o Fim da História, a descartar o conflito, o antagonismo e os processos não estritamente racionais, e muito típico do pensamento liberal.
Hoje este apagamento do político manifesta-se pela ausência de debate e antagonismo entre distintas visões do futuro, enraíza-se numa visão unificada da história e do seu devir, e tem como corolário o desinteresse das massas, e sobretudo das gerações mais jovens, pela política e pelo “Circo Democrático” (título de um tema dos Talking Heads que exprime precisamente esse desapontamento).
Retomando o pensamento de Mouffe, para a autora é um dado adquirido a necessidade do político e a impossibilidade de um mundo sem antagonismos e conflitos, pois o desejo de dissolver estas tensões – a tensão democrática pluralista – acarretaria a eliminação do político e a destruição da democracia.
Aparentemente, neste ano da graça de 2008, o político está de volta. Três pequenos sinais desse regresso: a nível local, o estudo de Nuno Augusto, que mostra que os portugueses nascidos no pós-25 de Abril, ao contrário da percepção corrente do senso comum, não estão menos interessados em política do que as gerações que os precederam. A um nível mais geral, a crise dos mercados financeiros e do crédito sub-prime, que tem levado muitos, incluindo reputados economistas, a reflectirem sobre a regulação, ou falta dela, do moderno capitalismo "neo-liberal", e sobre os mecanismos de controlo efectivo exercidos pelo poder político sobre o poder económico.
Terceiro sinal de que a paixão do político pode estar de volta: a ascensão meteórica de Obama nas Primárias dos Estados Unidos, e o modo como tem galvanizado os jovens, e a faixa etária dos sub-30, conduzindo-os a uma participação que muitos confessam experimentar pela primeira vez.
Mrs. Clinton que era, à partida, a grande favorita no campo Democrata, defronta-se com um adversário cada vez mais forte, que passou de “enfant terrible” da política (termo, a propósito, cunhado por Thomas Jefferson), a muito sério candidato à nomeação presidencial. Ainda esta semana a revista Newsweek apresentava uma sondagem realizada entre eleitores Democratas, que dava, segundo a sua interpretação dos resultados, empate técnico entre os dois candidatos, ou seja: 42% para Obama, 41% para Hillary, e 17% de indecisos, que é como quem diz, daqui até Agosto muita água há-de correr debaixo das pontes, e até ao lavar dos cestos é vindima.
A ascensão meteórica do jovem senador do Illinois, o único afro-americano a servir presentemente no Senado, tem, entre outras coisas a seu favor, a forma como prega apaixonadamente do seu púlpito, e é sem dúvida essa paixão, e a forma convicta como promete algo novo – change –, que está a conquistar a participação de tantos e tantos jovens antes indiferentes à política.
Pouco importa se de facto Obama promete algo realmente novo – um outro mundo – interessa sim que a crescente multidão que o segue, com destaque para os mais novos, quer algo novo e começa a acreditar nessa possibilidade.
Nada disto, claro está, configura o radical Regresso do Político preconizado por Mouffe. Mas são sinais. E há que começar por algum lado.
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