O poder da blogosfera

São páginas na Internet disponíveis para quem delas se queira servir. Os blogues vieram revolucionar a comunicação e são hoje um meio em crescimento. Desde a política à ecologia, passando pela sátira e pelo humorismo, há de tudo um pouco nestes espaços on-line. O Urbi entrou no universo de dois dos mais consultados blogues da Beira Interior e foi saber como funciona o “Máfia da Cova” e o “Estrela no seu Melhor”.

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O café junto à Universidade da Beira Interior está mais concorrido que o habitual para uma noite de quinta-feira. Um jogo de futebol leva mais gente ao local. Sentado numa das mesas do café, o principal responsável pelo blogue “Máfia da Cova” segue atenciosamente o desempenho do clube do coração. A vista apenas se desvia do televisor quando um grupo de alunos passa na rua a cantar.Quem se senta próximo deste jovem de 28 anos não pode imaginar que é o “Padrinho”. O responsável máximo por uma equipa de 25 “mafiosos”, todos jovens covilhanenses, entre os 23 e os 33 anos, que deram origem e mantêm um dos mais consultados blogues portugueses. Este jovem já está habituado a isso, “a que falem do blogue, dos assuntos que lá são tratados, do impacto mais ou menos visível de certos conteúdos e, sobretudo, dos comentários”, diz este responsável. As pessoas “não fazem ideia de quem é o Padrinho, e eu também não faço muita questão nisso”, continua. O membro “de topo” na “hierarquia mafiosa” diz que não se importava de revelar a identidade, “mas o anonimato vai mantendo algumas coisas engraçadas, como estar aqui no café rodeado de pessoas, ou num restaurante ou num outro local qualquer, e ouvir comentar algumas das coisas que colocámos no blogue”. O tema começa a despertar-lhe a fala e vai agora dividindo, serenamente, a atenção entre o televisor e os apontamentos registados no pequeno bloco de notas. Quem também parece ter já despertado para esta forma de comunicação foram os investigadores e académicos da área. Os blogues começam a dar origem a diversos estudos académicos, muitos deles, com origem na UBI.
O “Máfia da Cova” começou por uma brincadeira, “assim como todo o nome”, explica o “Padrinho”. Os membros da vasta “família mafiosa” são jovens covilhanenses que “um dia tiveram, como eu, de ir estudar para fora ou de deixarem de estar ligados à Covilhã”. Foi assim que surgiu a ideia de criar um blogue “que serviria como ponto de encontro entre amigos e também como uma forma de nos ligarmos à cidade natal”. Nunca estes jovens pensaram que iriam “criar um sítio que chega a registar mil visitas por dia e está perto de atingir as 650 mil visitas totais”.
A 25 de Maio de 2004 nasce o “Máfia”. Estava na Internet aquele que viria a ser um dos mais consultados blogues da Cova da Beira e que “chegou a ser o mais consultado a nível nacional”, diz o autor. Para provar isso mesmo, o “Padrinho” faz questão de ter sempre no blogue as ligações aos media que já falaram neste blogue. Uma lista onde constam, entre outros, o Expresso, o Público, a revista Única, o Tal e Qual, entre muitos outros órgãos de comunicação regional e televisões.
“É claro que o blogue não começou logo por ser conhecido”, explica o responsável. “No princípio começaram por existir alguns blogues semelhantes, mas julgo que o Máfia começou a ganhar destaque porque era actualizado e tinha diversos conteúdos”, continua. Mas sobretudo, "porque servia o interesse a temas comuns, quer aos autores, quer a um público “que também começava a procurar aquele tipo de conteúdos”.
Factores que parecem ser essenciais, do ponto de vista deste utilizador “e que começaram por tornar aquele endereço bastante conhecido”. Depois dos primeiros tempos, o Máfia começa a publicar um pouco de tudo “mas foi a informação relativa à cidade e às actividades culturais e desportivas que mais parece ter chamado à atenção das pessoas”. Desde essa altura até aos dias de hoje “que o grupo se foi mantendo mais ou menos certo e fiel aos temas e foi publicando no blogue, o que era um hobbie passou a ser quase uma obrigação”. Este leque diversificado de matérias e a “linguagem pouco comum, fazem parte da identidade do projecto e da forma aberta e irreverente como este se desenvolveu”, sublinha o “Padrinho”, daí que “por vezes penso em mudar algumas coisas, mas tenho um certo receio de estar a mudar também todo o fundamento do blogue”, confessa. Para este elemento, que está no topo da hierarquia “mafiosa”, o blogue “é da Covilhã, mas também de região, de cinema, de música, de humor, de mulheres bonitas, e é claro, de algumas farpas”.
E são talvez estas “farpas” a principal razão da fama do “Máfia da Cova”. Quando o assunto é política, nomeadamente assuntos relacionados com o Câmara da Covilhã o número de comentários sobe significativamente. Mas nem só de política local se alimentam os top’s do “Máfia”. Temáticas relacionadas com a UBI e com a Associação Académica (AAUBI) também ganham a atenção dos visitantes. O “Padrinho” diz que estas páginas “funcionam como um complemento à televisão, e aos jornais, são maneiras das pessoas participarem mais”. Para além disso, “no blogue, não se fala apenas em política, não se exalta o presidente da câmara local, nem se publica em função de uma agenda”. O “Padrinho” explica que “no Máfia tudo tem lugar, todos os leitores podem falar e enviar temas para publicação”.
A importância desta página chega já ao ponto “de nos pedirem para promover concursos e divulgar eventos, como foi o caso do Festival de Cinema do Fundão – IMAGO e do Festival de Rock do Tortosendo”. Para além do mais, “os nossos leitores também acabam por nos enviar algumas foto-denúncias e alguns assuntos mais melindrosos, porque sabem que tudo é debatido, sem medos, nem censuras”, garante o “Padrinho”.
Muitas das vezes “os assuntos que passam ao lado da comunicação social, ou que a imprensa não tem coragem de abordar da forma correcta, são debatidos livremente nos blogues”. O “Padrinho” diz não ter qualquer pretensão de “poder sobre a comunicação social” ou qualquer intuito “de influenciar ninguém”. Apenas descreve o blogue que coordena “como uma forma complementar de dar visibilidade a certos assuntos que sendo importantes para um número significativo de pessoas, não o parecem ser para a comunicação social”.

[Editorial]

> lara . srd @ gmail . com em 2008-02-08 13:31:12
Parabéns! Já há algum tempo que tanto quem lê como os próprios mafiosos mereciam uma entrevista. Contudo a curiosidade de saber quem é o Padrinho fica ainda mais aguçada...