Voltar à Página da edicao n. 419 de 2008-02-05
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> <strong>José Geraldes</strong><br />

Os sete pecados

> José Geraldes

O indiferentismo religioso é uma das chagas do nosso tempo. Mas não se pode negar a dimensão religiosa do ser humano. E então quando se fala de pecado, parece que cai o Carmo e Trindade. A reacção imediata por medo ou desconforto vai logo para a sua negação ou então para a dúvida da sua existência.
A noção de pecado perdeu-se nas sociedades modernas. Admitem-se falhas na vida mas pecado nem pensar. Ora o pecado é o contrário de Deus que tem os seus direitos sobre o homem, no respeito pela sua liberdade. No pecado reside a origem do mal. Ele existe em nós e na sociedade.
No Catecismo Católico, enumeram-se sete formas de pecado. São os chamados pecados capitais que escritores mesmo não crentes muitos glosam para aferir comportamentos sociais. Ora do Evangelho decorrem normas muito claras que ditam a relação do homem com Deus.
Quando estas normas são conscientemente violadas, acontecem as sete formas capitais de pecado. Paul Claudel, dramaturgo francês que se converteu numa noite de Natal, resume-as de foram lapidar: “A soberba ou orgulho endurece-nos, a avareza fecha-nos, a inveja rói-nos, a luxúria corrompe-nos, a gula embrutece-nos, a ira desfigura-nos e a preguiça paralisa-nos”. Examinar tais formas decerto contribuirá para melhorar não só a vida pessoal mas também as relações sociais e nos tornar mais livres de tanta escravidão que nos carrega.
O orgulho pessoal leva à mesquinhez e ao mais refinado egoísmo. O orgulhoso nunca admite que erra e impede a verdadeira colaboração na solução dos problemas. Só a sua opinião conta. O amor-próprio toma conta da sua personalidade levando-o a nunca ceder mesmo quando a realidade se torna evidente. Mas, como diz Teresa de Ávila, a humildade é a verdade.
A avareza não considera o bem comum. Arroga-se o direito de abusar da propriedade. O avarento desconhece a partilha. Guarda toda a riqueza para si e não quer saber de nenhuma forma de solidariedade. Esbanja em coisas supérfluas quantias enormes. A sociedade actual está cheia de avarentos.
A luxúria tornou-se transversal nas várias camadas sociais. Os critérios de pudor desapareceram. Tudo é natural, tudo é permitido. Usam-se argumentos para justificar comportamentos incorrectos. Espalha-se um noção de sexualidade limitada e contrária à sua natureza. A responsabilidade desaparece. O que importa é o prazer. Se se fala em moral, é-se alcunhado de atrasado. Confunde-se liberdade com libertinagem.
A ira provoca violência. Nos tempos modernos, ser paciente é ser herói. O stress altera a personalidade com reflexos graves na vida familiar e na educação dos filhos. A vida é uma correria. E ninguém quer esperar por ninguém. Todos desejam ser os primeiros. Ora a paciência afigura-se fundamental para a investigação, para os grandes projectos para o estudo e para a santidade. Até o amor não cresce se não houver paciência. Eis uma virtude de que hoje o mundo tanto precisa.
A gula exige o saber comer. Pode ter-se uma alimentação sadia sem se cair na gula que é o exagero de comer só pelo prazer de comer. Lá reza o ditado, comemos para viver, não vivemos para comer. E diz Paulo de Tarso, “quer comais, quer bebais, fazei tudo para glória de Deus”.
A inveja anda ligada ao orgulho. É como um verme que rói. Também se mistura com o egoísmo. E não leva à felicidade. O invejoso passa o tempo a destruir os outros. E torna-se um verdadeiro cancro social.
Nós, portugueses somos muito marcados pela inveja. É sintomático que Camões termine os Lusíadas com a palavra inveja.
A preguiça dá origem à inércia ao marasmo. Não contribui nem deixa contribuir para o progresso. Também se confunde com a rotina que impede toda a iniciativa. A preguiça é a paragem comodista no tempo. Há teólogos que consideram a preguiça como o maior dos pecados capitais.
Sete formas de pecado. Sete formas de não estar com Deus. Sete formas que nos desafiam, dia a dia, para rectificarmos as nossas atitudes em ordem a melhorarmos a nossa vida, a sociedade e a nossa aproximação de Deus.


Data de publicação: 2008-02-05 00:00:00
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