Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 418 de 2008-01-29 |
O livro “Sensibilidade e Bom Senso” é um retrato psicológico e social da pequena burguesia do século XVIII. É uma obra baseada nas emoções das mulheres e da sua condição social nessa época, referindo os preconceitos vigentes.
Escrita por Jane Austen em 1811, conta a satírica história da família Dashwood, que consiste na Sra. Dashwood e nas suas filhas Elinor, Marianne e Margaret. Ao morrer o Sr.Dashwood deixa todas as suas propriedades ao filho do seu primeiro casamento, John, a quem encarregou de cuidar das suas irmãs e madrasta, mas a verdade é que elas acabam por se ver forçadas a deixar a casa que era do pai, deixando para trás todo o luxo a que estavam habituadas. Vale-lhes a ajuda de um primo da viúva que as acolhe em Devonshire. É aí que Marianne (a sensibilidade) se apaixona, à primeira vista, por um homem que, afinal, a engana, enquanto que a sua irmã Elinor, (o bom senso) gosta de alguém com quem não pode casar. Sem dote, têm poucas possibilidades de fazer um bom casamento, pois vivia-se numa sociedade hierarquizada e o casamento era realizado por conveniência.
Elinor, a protagonista, é o bom senso, a racionalidade em pessoa. Para ela tudo tem uma explicação, todos os gestos devem ser bem pensados, as atitudes as mais correctas. É uma excelente pessoa, sempre preocupada com a família, principalmente com a irmã Marianne. Vai ser ela a assumir o papel de governanta da casa onde vão viver. Até ali apenas se preocupavam (tal como a elite daquela altura) em bordar, desenhar, ler, tocar piano, passear, fazer compras e ir a festas. As duas irmãs, de personalidades bem distintas, partilham grandes desilusões em relação ao amor: Marianne visivelmente infeliz e Elinor disfarçando com sucesso o seu coração magoada. As características comuns às duas irmãs - razão, sensatez e integridade - permitem-lhes reconstruir as suas vidas e entrar numa fase de paz espiritual e felicidade. O curioso é que, no final do livro, a racional Elinor cede aos encantos do amor verdadeiro e apaixonado de Edward (irmão da sua cunhada), enquanto a sensível Marianne se apaixona pelo lógico e adequado do coronel Brandon.
Jane Austen diferencia e problematiza os significados e a importância do dinheiro e da riqueza no seio de duas famílias, através de personagens muito diferentes entre si. A principal característica deste romance é talvez a análise das reacções e reflexões da alma humana. As duas irmãs, uma representando a sensibilidade e a outra o bom senso, ajudam-se mutuamente, e conseguem, dessa forma, suportar as vicissitudes e atingir os seus objectivos. A autora deixa claro que uma depende da outra, transmitindo a ideia de que todos nós somos dotados das duas qualidades mentais, a razão e a emoção, e que ambas são importantes e complementares.
Ao fim e ao cabo, todos nós somos Elinor e Marianne, todos nós agimos em consonância com a nossa própria personalidade, seja de forma mais racional ou mais emotiva. Acabamos, apesar de uma se evidenciar sempre mais, por ter um pouco das duas. A escritora deste romance mostra que a razão e a sensibilidade são complementares e necessários em cada um de nós. É preciso alguma “sensibilidade e bom senso” para enfrentarmos os desafios diários que se apresentam nas nossas vidas.
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