Voltar à Página da edicao n. 410 de 2007-12-04
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
Director: João Canavilhas Director-adjunto: Anabela Gradim
 
> <strong>Márcio Meruje</strong><br />

A problemática do silêncio na Biblioteca Central da UBI

> Márcio Meruje

“São muitas, mas invariavelmente distorcidas, as visões que se costuma ter de uma biblioteca. Ora é lugar sagrado, onde se guardam objectos também sagrados, para desfrute de alguns eleitos. Ora, sob uma outra óptica é apenas uma instituição burocratizada, que serve para consulta e pesquisa, assim como para armazenar bolor e traças. Para muitos poucos, aqueles que a frequentam assiduamente, ela constitui o local de encontro com o prazer de ler, conhecer e informar-se.”
O que é afinal uma biblioteca?
Como frequentador assíduo da Biblioteca Central da Universidade da Beira Interior, constato que por melhores condições físicas que este espaço tenha, por melhor serviço que todos os Órgãos Dirigentes desta Biblioteca prestem ao público que a frequenta, é condição necessária a existência de silêncio para que se seja possível valorizar todos os pontos que referi inicialmente.
O espaço precisa eminentemente de uma reformulação e, ao longo dos quase quatro anos que usufrui deste espaço, constato que o ambiente é cada vez mais decadente: joga-se computador, ouve-se música, existe uma eminente confusão entre fazer trabalhos de grupo e estudar. Igualmente confuso é a utilização de um computador como ferramenta de ócio - pois à partida jogar e consultar o famoso Hi5 não consta no plano curricular de qualquer unidade curricular - e a utilização do mesmo espaço para a tentativa - impossibilitada pelo barulho - para descoberta da rica informação que tantos livros têm para nos oferecer. Acrescento que por vezes o bar está mais silencioso que a própria biblioteca.
As críticas construtivas, que surgem inevitavelmente como sugestão de reformulação do espaço, direccionam-se em duas matrizes. Em primeiro os computadores deveriam estar isolados do espaço para leitura, e estudo. Em segundo, fruto de uma estrutura arquitectónica que pouco convida ao silêncio (devido à grande amplitude do espaço) toda biblioteca deveria ser re-distribuída de modo a serem criados espaços onde o barulho não ecoa-se pelos dois pisos (é facilmente constatável empiricamente o incomodo barulho provocado por alguém que circula nas escadas de acesso ao piso - 1. Esse barulho é quase provocatório de um salutar estudo quando no mesmo momento circulam mais de duas pessoas nessas escadas e, p.ex, uma delas utiliza, diga-se, "calçado mais pesado e com menos apoio no calcanhar".
Se a UBI tem por fins, tal qual consta nos Estatutos desta entidade, "a formação humana, cultural, cientifica e técnica", é necessário desencadear essa formação numa cultura do silêncio para que seja possível usufruirmos dos espaços a que temos direito. Neste caso concreto, usufruirmos de um espaço de silêncio onde seja possível dar vida aos livros.
Certo de uma reflexão e eventual melhoria das condições disponho-me desde já para iniciarmos, todos juntos, esta cultura do silêncio.

> jrosa @ ubi . pt em 2007-12-07 15:59:49
Concordo absolutamente com a opinião do Márcio Meruje. De facto, a Biblioteca está numa grande confusão e pesa-me que quem de direito não veja ou finja não ver, e assobie para o lado. A verdade é que grande parte dos frequentadores da Biblioteca não o fazem por gostar de livros (certas áreas, aliás, gabam-se de apenas ler sebentas, fotocópias e apontamentos, quase fazendo «luxo» de não lerem livros…), mas para navegar na Net, ouvir música, etc. Sem dúvida que deve haver computadores para pesquisar, mas noutros espaço, v.g., no átrio da Entrada ou em Gabinetes. Mas um computador em cima de cada mesa de estudo é de um provincianismo aterrador… tanto mais aterrador porque se travestiu da parafrenália tecnológica. A Biblioteca da UBI está sem alma! E não vejo vontade política de intervir positivamente na situação. Um aspecto que o Márcio não refere prende-se com o fumo: deveria haver absoluta proibição de fumar em todo o edifício da bibliotea. Só os ignorantes das coisas dos livros não sabem que o fumo é um inimigo mortal do livro (tal como a humidade e a luz). Não sei como é possível haver espaços de fumo na Biblioteca (no átrio, bar, nos gabinetes do piso -2, etc.). É espantoso! Quase me parece um crime continuar a mandar vir livros para este local. Esta gente anda a brincar às Bibliotecas. Uma Biblioteca (cf. v.g., a do J.L. Borges) é pensada para a Eternidade, embora a gente saiba que durará algumas centenas, talvez milhares de anos apenas... Mas esta, por este andar, terá documentos que não durarão mais de 50 anos, o que é uma supina estupidez. Por isso importa agir e já! Estudantes da UBI, uni-vos por esta causa, pois a Biblioteca é a Alma de uma casa de estudo superior. Se os guardiães da mesma não compreendem isto, manifestem-se publicamente. Fiquem um um dia inteiro em greve de silêncio, frente à Biblioteca, com a boca tapada, selada com fita gomada, para ver se o vosso silêncio se torna ensurdecedor. Prof. José M. Silva Rosa - DCA


Data de publicação: 2007-12-04 00:00:00
Voltar à Página principal

2006 © Labcom - Laboratório de comunicação e conteúdos online, UBI - Universidade da Beira Interior