Voltar à Página da edicao n. 409 de 2007-11-27
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> <strong>José Geraldes</strong><br />

Bento XVI e os católicos portugueses

Os leigos não só têm o direito mas também o dever de ocuparem a tempo inteiro o seu lugar na Igreja

> José Geraldes

A visita dos bispos ao Papa – a chamada visita Ad Limina – que se realiza de cinco em cinco anos, é precedida de um relatório de cada diocese. A partir deste relatório, o Papa dialoga com cada bispo em privado. No final, dirige um discurso a todos em conjunto.
Neste discurso, a partir dos relatórios apresentados, o Papa traça linhas de orientação com relevância para pontos que, a seu juízo, merecem destaque para criar novos dinamismos na vivência da fé.
Na visita dos bispos portugueses, Bento XVI focou aspectos mencionados nos relatórios chamando a atenção para os empenhamentos em que a Igreja em Portugal deve investir. Um aspecto referido sublinha que “é preciso mudar o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II.” Bento XVI acentua ainda que, nela – Igreja – “esteja bem estabelecida função do laicado, tendo em conta que somos todos um, desde quando fomos baptizados e integrados na família dos filhos de Deus, e todos somos corresponsáveis pelo crescimento da Igreja.”
O ponto de partida é a mudança de estilo e de mentalidade. Não se pode ser cristão apenas com devoções e orações individualistas mas com uma vivência da fé que tem de ser partilhada. E que corresponda aos desafios do quotidiano. O ser cristão implica uma coerência de vida. A fé tem de ser traduzida para os comportamentos de todos os dias. E não um mero sentimento que se usa quando se está doente ou se precisa de um emprego ou que um filho passe num exame.
A fé vive-se ligada à vida. E não é um acto sociológico. Também não se reduz a um supermercado religioso onde se procuram serviços, fazendo de Deus um comerciante. Há até cristãos que são capazes de ir à missa e à bruxa ao mesmo tempo. Tal prática não corresponde à identidade cristã.
Há uma falta de formação clamorosa. Daí a necessidade de aprofundamento da fé. Trata-se de uma urgência a fazer ver aos cristãos e às comunidades paroquiais. Neste ponto, a diocese da Guarda iniciou, no ano passado, um ciclo de catequese para adultos com base no Catecismo Católico.
Para entrar no ritmo do Vaticano II, importa assimilar o seu espírito e ter a noção de que ser Igreja é pertencer a um povo em que todos os seus membros assumem responsabilidades específicas.
A Igreja não são só o papa, os bispos, os padres e religiosos e religiosas mas também os leigos a quem comete também dar testemunho da fé, assumindo funções próprias.
Bento XVI refere claramente que “esteja bem estabelecida a função do clero e do laicado.” O Vaticano II tem um documento onde define de forma exaustiva as funções dos leigos na vida da comunidade eclesial. E num dos capítulos da Constituição sobre a Igreja define-se o seu estatuto, sem ambiguidades. De forma geral, os leigos são implicados, dentro da sua esfera própria, na evangelização activa das pessoas, na animação cristã de ordem temporal, na família e no exercício de cargos como leitores, catequistas, juízes e promotores de justiça no tribunal diocesano ou fazendo parte dos conselhos económicos das dioceses e paróquias.
Quantos se dispõem a exercer estas funções? É que, muitas vezes, o padre tem de fazer tudo sozinho. Ora os leigos não só têm o direito mas também o dever de ocuparem a tempo inteiro o seu lugar na Igreja. Haja vontade de todos para que tal aconteça.
O discurso de Bento XVI provoca todos os cristãos portugueses. É nosso dever passar à acção. Todos somos responsáveis. Já Charles Péguy, poeta francês, escrevia nos século XX: “Ou nos salvamos todos juntos, ou nos condenamos todos juntos.”


Data de publicação: 2007-11-27 00:00:00
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