Voltar à Página da edicao n. 408 de 2007-11-20
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Director: João Canavilhas Director-adjunto: Anabela Gradim
 

Um novo episódio americano

> Eduardo Alves

Ridley Scott quis construir uma boa história, bem encenada, com estrutura e substância suficientes que lhe dessem a possibilidade de criar um argumento arrebatador. O realizador inglês não quis, na sua mais recente produção, deixar os créditos em mãos alheias. Para quem conta já no currículo com a direcção de filmes como “Alien – O Oitavo Passageiro”, “Gladiador”, “Cercados” ou “Reino dos Céus”, entre muitos outros, um projecto de grande monta, como era o de “Gangster Americano” não poderia ser apenas mediano.
Para levar por diante a reprodução cinematográfica da história verídica de um dos principais mafiosos do crime organizado na América dos meados do século XX, Scott reuniu-se de um elenco de actores “à prova de bala”. Há cerca de quatro anos que o realizador trazia por casa o argumento do filme. Uma peça fundamental para o projecto era o seu actor de confiança, Russell Crowe, que Ridley Scott fez brilhar em “Gladiador”. Contudo, quando o realizador inglês mostrou o guião a Crowe, este recusou-se a entrar no projecto tal como estava.
Passados todos estes anos, Scott volta a atacar e com argumentos de peso. Um guião reformulado e Denzel Washington como “companheiro de jornada”. Começa então uma verdadeira recriação de pequenas histórias, episódios arrancados das páginas da impresa e de relatórios policiais e reconstruções de “lendas” do Harlem, que no seu conjunto vão dar corpo à biografia de um dos principais mafiosos da América.
Toda a história passa então a girar em torno de Frank Lucas, personagem interpretada por Denzel Washington, e que começa no mundo da Máfia como motorista de um dos principais barões do crime organizado. Quando este é brutalmente assassinado, Frank vê uma oportunidade de entrada no mundo do crime e dos negócios ilícitos.
Senhor de uma astúcia e de um engenho invulgares, Frank Lucas cria o seu próprio império da droga. Começa por ter uma ética rigorosa e mão de ferro para quem se cruza no seu caminho. Ganha influência através de uma espiral de contactos, que vai alargando o seu raio à medida que surgem as negociatas, os favores políticos e económicos e também o apoio aos que se juntam à sua organização.
Em pouco tempo coloca nas ruas droga mais pura e a um melhor preço que todos os outros “concorrentes”, o que o leva a chegar depressa ao controlo deste negócio. Mas há medida que vai crescendo a sua importância no sub-mundo do crime, também a sua presença entre “as estrelas” da cidade e os membros reputados da cidade, se eleva.
Por estas alturas Richie Roberts, um detective marginalizado e com carreira estagnada, que tem forma nesta produção através de Russell Crowe, começa por notar as mudanças na chefia da máfia local. Também Roberts tem uma ética muito singular. Algo que ao longo da sua carreira de polícia o levou a afastar os seus pares e a ganhar traquejo no combate ao crime organizado.
Esta astúcia é suficiente para que o polícia se vá apercebendo do crescente “black power” no Harlem e das consequências que daí podem advir. O confronto entre estes dois pólos, o da justiça e da lei, e o do crime e da corrupção torna-se inevitável. E o filme vale sobretudo por isso mesmo. Pela interpretação irrepreensível dos dois principais actores, por todo um conjunto de cenas muito bem conseguidas e pela narrativa que se desenrola ao longo de 157 minutos.
Um filme muito bem conseguido que, pelo menos, não defrauda as fortes expectativas colocadas no mesmo. De salientar também todo o trabalho de produção, fotografia e backstage que ajudam a recriar, de forma minuciosa, em alguns momentos, toda aquela história. De sublinhar também o bom trabalho desenvolvido na escolha de um conjunto de actores, onde para além dos já nomeados Russell Crowe e Denzel Washington, se destacam também Cuba Gooding Jr, Carla Gugino e Josh Brolin, entre outros.






Data de publicação: 2007-11-20 12:04:23
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