Voltar à Página da edicao n. 406 de 2007-11-06
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
Director: João Canavilhas Director-adjunto: Anabela Gradim
 
> <strong>Anabela Gradim</strong><br />

Mind this Gap

> Anabela Gradim

O Programa Erasmus está a comemorar os seus 20 anos de existência. São duas décadas a promover o intercâmbio de milhares de estudantes, sobretudo dentro do espaço europeu. Depois de um franco crescimento na última década constata-se que saem muitos estudantes portugueses, mas finalmente, apesar da barreira da língua, muitos estrangeiros já procuram Portugal, e até a Covilhã, para fazerem parte dos seus estudos.
Um programa deste género, com as proporções que hoje toma, e que é fruto de uma opção política das instâncias europeias, pode fazer muito pela compreensão entre os povos, e outro tanto pela criação de um espaço europeu onde a livre circulação de pessoas, para trabalho ou lazer, seja um facto banal
A verdade é que muitos dos jovens que tactearam uma experiência no estrangeiro enquanto alunos, e porque dessa experiência guardam boas memórias, voltam a sair após concluídos os estudos. Constituem uma nova geração de emigrantes, altamente qualificados, que optam por deixar o país por considerarem – com ou sem razão – que em Portugal teriam extrema dificuldade em encontrar aplicação para as suas qualificações.
Ao mesmo tempo que cresce o desemprego e o sub-emprego entre licenciados, cresce a procura de outras paragens por parte dos que serão os mais dinâmicos e inconformistas de entre eles. Hoje, na sociedade portuguesa, toda a gente conhece casos de jovens nesta situação. E os números são de molde a fazer a pátria reflectir. Noticiava recentemente o DN um relatório do Banco Mundial que analisava o fenómeno da “fuga de cérebros”, onde se dava conta de que «Portugal é o país europeu de média/grande dimensão mais afectado pela saída de licenciados e quadros técnicos»; que um quinto dos portugueses com ensino superior não trabalha em Portugal; e que «na lista dos Estados com mais de cinco milhões de habitantes, Portugal é 21.º, com a maior percentagem de licenciados a residir fora das fronteiras», e o primeiro no espaço europeu.
Não são números de fazer o País corar de orgulho. Todos os estudos sobre emigração consideram os impactos negativos que esta traz ao país «deixado», nomeadamente a privação de quadros dinâmicos que poderiam ajudar a desenvolver a região de origem. É que, ninguém se iluda, há diferenças entre esta geração e a que emigrou nos anos 60 e 70, e não só as óbvias, de «qualificação», mas também qualitativas e de mentalidade. É provável que muitos desses jovens ainda voltem a Portugal, depois de consolidados os seus percursos familiares e profissionais, mas dos que não voltarem, e mesmo dos que voltarem enquanto não o fizerem, não são de esperar as brutais «remessas» garantidas pela geração dos seus pais e avós quando emigrou. Para o dizer de um modo mais simples: alguém entre os 20 e os 30 anos, com formação superior, que viva em Londres ou Nova Iorque, faz isso mesmo: vive em tais cidades, e já não alimenta a obsessão e mostrar à aldeia, à paróquia e à pátria que «venceu», investindo nela tudo o que tem. Portugal já não é o espelho onde se revêem os jovens licenciados que emigram.
Mind this Gap – Graduados Abandonam Portugal (http://mindthisgap.blogspot.com/), é um blog que pretende «reunir histórias de jovens que investiram na sua educação em Portugal e se encontram a trabalhar no estrangeiro e de jovens que já tiveram a sua experiência no mundo e regressaram a Portugal», e já reúne mais de uma vintena de experiências. O espaço está aberto a quem desejar contar as suas experiências, e procura aclarar «o que leva os jovens portugueses graduados a procurarem emprego no resto do mundo?», «quais os motivos que nos levaram a sair? A regressar? O que temos em comum? As nossas vivências são conclusivas?».
Sei que são muitos, são cada vez mais, e também não tenho nenhuma ideia clara sobre as razões que levam esses jovens a sair. Mas concordo com o autor do blog: Mind this gap, please.


Data de publicação: 2007-11-06 00:00:15
Voltar à Página principal

2006 © Labcom - Laboratório de comunicação e conteúdos online, UBI - Universidade da Beira Interior