Fenómeno religioso analisado em livro

Com grande parte da carreira académica dedicada à investigação das religiões e da fé, Donizete Rodrigues, docente do departamento de Sociologia da UBI, escreveu um manual sobre Sociologia da Religião. Este novo livro é apresentado dia 12 de Novembro.

Corria o ano de 1982 quando Donizete Rodrigues se aventurou a estudar uma tribo de aborígenes da Bolívia. Desde essa altura que as questões ligadas á religião e à fé sempre estiveram presentes no percurso académico do docente da Universidade da Beira Interior.
Para marcar todo esse tempo, surge agora o livro intitulado “Sociologia da Religião”. Uma publicação que chega às livrarias através da editora Afrontamento e que o autor considera como “um manual de estudo sobre esta área”. Donizete Rodrigues começa mesmo por dizer que este “é um livro muito útil, por isso tinha a ideia de chamá-lo de manual”. Mas este é também “um livro que reflecte a minha longa trajectória de investigação sobre os fenómenos religiosos que acontecem em diferentes contextos e sob diferentes aspectos”.
O professor associado do Departamento de Sociologia da UBI acrescenta que outra das características interessantes deste novo título “passa pela grande variedade bibliográfica”. Fruto de um profundo e continuado estudo sobre esta matéria, o autor conseguiu agora apresentar mais de 25 páginas de bibliografia “que podem servir de ajuda a quem precise de aprofundar conhecimentos sobre um determinado tema”.
Uma bibliografia que vai da metade do século XIX, até aos dias de hoje e que abarca a maior parte das temáticas tratadas na sociologia.
Este é um livro com um certo carácter biográfico, no que respeita ao fenómeno religioso. Na estrutura desta obra “tento dar uma definição de religião e para se ter uma ideia do que é a complexidade do tema, são cerca de 50 páginas acerca do que é religião”, acrescenta Donizete Rodrigues.
Para além disso houve também a preocupação de mostrar “o que é a sociologia da religião, como é que ela evoluiu e quais são as novas problemáticas religiosas no campo da sociologia”. Novos temas como a eutanásia, a manipulação genética, e tudo o que envolve ética e religião são também abordados neste estudo.
“Por outro lado tenho também o cuidado de falar sobre os novos movimentos religiosos. Um fenómeno importantíssimo nos dias de hoje que não poderia de deixar de abordar”. Donizete Rodrigues, a este respeito, explica que “não se poderia falar neste tema sem contextualizar e localizar historicamente o que é o protestantismo, no século XVI”.
Esta base histórica serve depois para falar das teorias importantes que hoje surgem na sociedade “e que se devem à secularização”. Conceito que Rodrigues diz estar associado “ao afastamento das pessoas, relativamente às igrejas históricas”. Mas que também levanta questões como o porquê das pessoas viverem a religião de uma maneira individual e o porquê do aparecimento de novos fenómenos religiosos. O docente da UBI defende no seu novo livro que a teoria da secularização “é fortíssima na sociologia”. E por isso mesmo “faço nesta obra um olhar crítico a esta teoria”.
Durante as mais de 200 páginas, o autor encontra ainda espaço para “explicar a situação da religião hoje, no espaço sociológico”. Num momento em que surgem diariamente, novas religiões, quais os fenómenos que se adivinham. Neste âmbito, Donizete Rodrigues Explica mesmo que o aparecimento das denominadas “seitas” tem números brutais, sobretudo nos Estados Unidos da América e no Brasil, “os dois principais ‘laboratórios’ de religiões, onde surgem cerca de 3500 a 4000 mil novos fenómenos religiosos todos os anos”. Mas começam também a aparecer números semelhantes no Japão, na África e noutros pontos do globo.
O autor desta obra espera agora também contribuir para a “um maior estudo sobre esta temática em Portugal”. Segundo Donizete Rodrigues, “esta é uma área de estudo muito pouco desenvolvida em Portugal”. Algo que se deve sobretudo ao facto “de não termos nesta área uma grande tradição de investigação”. Facto que também está ligado ao recente aparecimento da Sociologia, enquanto ciência, em Portugal. Para além disso, “a própria sociologia portuguesa também surge num contexto político onde a religião não estava muito próxima dos temas de estudo”, termina.