Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 404 de 2007-10-29 |
Li algures que a Associação Académica pondera mudar a Recepção ao Caloiro para o Fundão devido à falta de apoio da autarquia covilhanense. Será, certamente, um mero desabafo. Mas não deixa de ser estranho que a Câmara não apoie uma das maiores festas da cidade e, de acordo com a organização, a maior Recepção ao Caloiro do país. Não sei se a Recepção da UBI ainda é a maior, mas recordo-me perfeitamente do ano que isto foi dito pela primeira vez: 1988.
Tudo começou quatro anos antes, em 12 de Janeiro de 1984, com a primeira Latada. Nestes primeiros anos a festa incluía ainda actividades desportivas e um baile. Em 1985 organizou-se pela primeira vez uma Recepção concentrada numa só semana. O lema escolhido foi “Vamos Fazer a Tradição” e para os 496 alunos da UBI foi preparada uma semana com um orçamento de 500 contos (€2500). O programa incluía jogos entre caloiros e veteranos, a Garraiada, o Baile de Gala e a Latada, o momento em que os caloiros eram apresentados a uma cidade pouco habituada a estas iniciativas. No meu ano de caloiro, sendo então estudante de Engenharia Civil, desfilámos usando os capacetes de protecção obrigatórios nas obras. Ao chegarmos ao Pelourinho, muitas pessoas perguntavam se aquilo era uma manifestação de mineiros da Panasqueira.
Sendo notório que uma pequena universidade não podia competir com as Queimas das Fitas das grandes universidades, a Associação Académica decidiu apostar na recepção aos novos alunos para marcar o calendário académico. Sob o lema, “O Nascer da Tradição”, em 1988 foi estabelecido o modelo que ganhou fama e transformou a festa da UBI na maior Recepção de Portugal. Começando com a Serenata, (domingo), o programa incluía Dança Teatro e Jazz (2ª e 3ª feira), Latada e Tunas (4ª feira) Concertos (5ª e 6ª feira), Garraiada e Baile de Gala (sábado), Enterro do Caloiro (domingo).
Na década de 90, já com o modelo estabilizado, passaram pela UBI bandas como GNR, Mão Morta, Pedro Abrunhosa, Ban, Rádio Macau, Pop dell Arte, Madredeus, Enapá 2000, Despe e Siga, Silence 4, Aerolineas Federales ou Anne Clark, só para citar alguns. A música clássica foi representada pela Nova Filarmonia Portuguesa ou pelos Miso Ensemble, e o teatro por grupos como A Barraca ou o Grupo de Fernando Gomes, com a célebre peça “Ó Maria não me mates que eu sou a tua mãe”. Havia ainda lugar para actividades menos culturais, como o Arraial ou o Rali das Tascas.
Os tempos são outros e os interesses dos estudantes também. A Garraiada e o Baile de Gala já não fazem parte do programa de festas. O baile, juntamente com a Latada, foi sempre um dos momentos mais altos. A academia vestia-se a rigor e as sonoridades pop eram substituídas pela música dos anos 20, 30, 40 e 50 exemplarmente interpretadas pela Orquestra Melodia e, mais tarde, pela conhecida Orquestra da Felicidade, do Brilho e da Glória. Em 1985, o Baile de Gala decorreu na boite A Fonte, um espaço entretanto demolido que ficava situado frente ao Centro Comercial da Estação. Em 1987 foi o Sanatório dos Ferroviários a receber o baile e dentro do recinto chovia a potes. Em 1988 o baile voltou à cidade e realizou-se na antiga Fábrica Alexandrino Nogueira, local onde hoje está a Telepizza. Em 1990 nova mudança para um barracão do Parque Industrial do Canhoso, em 1991 realizou-se na antiga fábrica Ernesto Cruz, no edifício contíguo ao Cibercentro, e em 1992 nos salões do Teatro-Cine. Nos últimos o baile realizou-se num hotel da cidade na tentativa de se encontrar um local definitivo, mas acabou a fraca adesão ditou o fim de um dos momentos mais aguardados das recepções iniciais.
Ao longo destes anos, a Recepção levou as suas actividades a toda a região. A garraiada decorria em Idanha-a-Nova, com almoço e transporte assegurados pela autarquia local. O Fundão recebeu alguns concertos, também eles apoiados pela Câmara fundanense. Com esta tradição, ninguém deve estranhar o desabafo do presidente da AAUBI: afinal de contas, as autarquias vizinhas sempre apoiaram a festa. A novidade é a falta de apoio da autarquia covilhanense, algo incompreensível. A Recepção merece o apoio de todas entidades da região e precisa da presença massiva dos estudantes da UBI nas actividades. Só assim pode voltar a ser a maior do país, tal como aconteceu na década de 90.
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