Voltar à Página da edicao n. 403 de 2007-10-23
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
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A UBI está a transformar desperdícios florestais em bioetanol

UBI descobre energia limpa na região

Os desperdícios florestais que resultam da limpeza das matas são a principal matéria-prima que a UBI utiliza para fazer bioetanol. A investigação que decorre na instituição covilhanense e que conta com o apoio da Associação Florestal do Paul pode dar um contributo decisivo para a rentabilização da mancha florestal da Beira Interior.

> Eduardo Alves

Uma equipa de quatro docentes e investigadores da UBI está a trabalhar num projecto que pode vir a revolucionar o sector dos biocombustíveis e também das florestas. A mais recente investigação liderada por Ana Paula Duarte, do Departamento de Ciências e Tecnologias do Papel pretende transformar todos os desperdícios florestais que resultam da limpeza das matas, em bioetanol.
Este projecto trata da utilização de uma matéria-prima renovável para a obtenção de um biocombustível. Uma prática que está já algo disseminada, “mas não nestes moldes”, começa por explicar a docente.
Hoje em dia fala-se muito em “biomassa”, os desperdícios florestais que resultam da limpeza das matas, mas com a finalidade da produção de energia através da queima. Há já algumas centrais de biomassa que estão em funcionamento e outras espera-se para breve o seu arranque. Estruturas “onde se transformam os restolhos provenientes das limpezas das matas em energia, através da queima destes”.
Contudo, uma das principais novidades introduzidas pela investigação que está a ser desenvolvida na UBI passa pela matéria-prima utilizada. Neste caso, “tudo será aproveitado, nomeadamente tudo o que é matos, e que estão envolvidos em enormes massas florestais, como giestas, caruma, estevas, silvas, carqueija e tudo o que sobra da limpeza das próprias árvores, como os ramos e as bicadas”, esclarece Ana Paula Duarte. Toda esta mistura pode ser utilizada como matéria-prima neste projecto, que tem como finalidade, a produção de etanol, através de uma matéria-prima renovável, “daí ser bio”. Um facto que só por si o torna mais complexo do ponto de vista científico, mas “também o torna mais eficaz na sua utilização quotidiana e na aplicação prática”.
A principal utilização do etanol passa por introduzir este componente nos combustíveis automóveis. Desta maneira, são reduzidas as emissões de gases tóxicos para a atmosfera, é reduzido o consumo de combustível convencional e também o gasto de petróleo. A intenção das directrizes comunitárias vai no sentido de, até 2010, os países membros começarem a introduzir etanol nos combustíveis dos transportes rodoviários.Uma alteração “que não implica nenhuma transformação das viaturas e nenhum gasto adicional por parte dos seus proprietários”, salienta a investigadora. Neste momento há vários grupos de investigação a trabalhar neste tipo de projectos, quer em Portugal, quer noutros países da Europa, “o que varia são as matérias-primas”.
Esta investigação tem também um carácter social muito vincado, uma vez que em toda a região existem grandes manchas florestais “que podem agora ser rentáveis e voltar a despertar a atenção dos seus proprietários”, lembra Ana Paula Duarte. Para além de ser também um contributo no que respeita à limpeza das matas e à prevenção de incêndios florestais.
Todo o processo de obtenção do bioetanol tem duas partes bem diferenciadas. Uma é o tratamento físico-mecânico da matéria-prima. Isto porque, “a produção de bioetanol a partir de plantas que não as madeiras, como é o caso do milho, é relativamente mais fácil”, explica a investigadora da UBI. A partir de matérias vegetais mais duras, como é o caso dos desperdícios florestais, torna-se mais difícil, “porque a matéria-prima tem outros componentes químicos que tornam o processo mais complicado”. Nesta primeira fase “onde já recolhemos resíduos florestais que foram já despedaçados por maquinaria própria, vamos experimentar vários tamanhos de partículas e vamos depois fazer um pré-tratamento químico”. Só no final de todo este procedimento “é que essa matéria será tratada com processos biotecnológicos para hidrolisar”. Os açúcares obtidos vão depois ser fermentados “e dar origem ao bioetanol”. Esta segunda parte, mais relacionada com a área da química é feita por um grupo de investigadores, dirigidos pelo professor João Queiroz, e que desenvolvem os seus trabalhos nos laboratórios da Faculdade de Medicina da UBI.
A UBI conta com “o precioso apoio de dois parceiros externos à universidade”. Parceiros com os quais foram já celebrados protocolos e cuja papel se tem revelado essencial. Trata-se da Associação de Produtores Florestais do Paul e de uma empresa ligada à produção de bioenergias que pertence ao grupo Altri e que está relacionada com a CelTejo e com o Caima. O grupo Altri “tem empresas na área da energia e foi com essas que celebrámos um protocolo onde está uma participação do grupo que vai no sentido de existirem trocas de conhecimentos”. Por outro lado, o contacto que a UBI estabeleceu com Associação de Produtores Florestais do Paul “vai no sentido do fornecimento das matérias-primas”. Neste momento, nos laboratórios do Departamento de Ciências e Tecnologias do Papel, da UBI, estão já desperdícios florestais vindo da zona do Paul que mais tarde vão ser transformados em etanol.
Este é um projecto com a duração de três anos e que está a ser apoiado pelo Fundo Florestal Permanente, através do IFADAP, no total de 140 mil e 500 euros.
A equipa é composta por Ana Paula Duarte e Emília Amaral, do Departamento de Ciências e Tecnologias do Papel e por João Queiroz e Fernanda Domingues, do Departamento de Química. Para além destes docentes, o projecto conta ainda com dois bolseiros. Este projecto avançou através do Gabinete de Apoio a Projectos e Investigação (GAAPI) e foi por intermédio deste gabinete “que tivemos conhecimento dos fundos aos quais concorremos”, sublinha a investigadora.


A UBI está a transformar desperdícios florestais em bioetanol
A UBI está a transformar desperdícios florestais em bioetanol


Data de publicação: 2007-10-23 00:33:14
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