Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 401 de 2007-10-09 |
“O novo regulamento jurídico comporta grandes vantagens”
O novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) vem alterar, em grande forma, a vivência académica. Depois de ter passado o testemunho da direcção do Urbi, jornal da Universidade da Beira Interior, que fundou e dirigiu durante sete anos, António Fidalgo fala sobre o estado da UBI, do ensino superior e do que vai mudar.
> Eduardo AlvesUrbi@Orbi – Tem sido uma pessoa ligada à Comunicação e sobretudo à opinião. Tem muitas vezes falado da UBI e do Ensino Superior. É da opinião de que mais pessoas deviam também fazê-lo?
António Fidalgo – Acho importante que os universitários, obviamente não todos porque nem todos estão vocacionados para isso, devem pronunciar-se sobre a vida da universidade, sobre a universidade em Portugal, a UBI em particular, e a sua ligação à região, ao país e ao mundo.
U@O – Esta análise que tem feito do ensino superior aponta, ou não, para um “estado lastimoso” de tudo quanto diz respeito às universidades?
A.F. – Não concordo com essa designação. O estado não é lastimoso. Nas circunstâncias portuguesas, é até bem melhor do que alguma vez o tivemos. Em Portugal temos apenas a tradição secular de uma única universidade. As três universidades, Lisboa, Porto e Coimbra reportam-nos a uma realidade já da República. Não temos uma tradição universitária variada como têm os outros países onde houve sempre uma multiplicidade de universidades que dialogavam entre si; aqui apenas tivemos uma.
Penso pois que a situação é bem melhor do que há alguns anos atrás. Obviamente as três universidades atingiam uma faixa muito restrita da população, os seus alunos vinham muito bem preparados dos liceus. Hoje em dia a universidade democratizou-se, universalizou-se, com os custos inerentes. Mas “lastimoso” não é a palavra correcta, de maneira alguma.
As críticas que podem e devem ser feitas à universidade devem ter em conta as inevitáveis dificuldades que um processo de expansão e de democratização acarreta.
U@O – Mas essa democratização não foi feita da melhor forma, é isso?
A.F. – Tem a ver com vários factores, nomeadamente com o processo de abertura das novas escolas. Outros países mostraram como é que isso se faz. Aqui começaram-se cursos apenas com assistentes, a quem cabe inegavelmente muito mérito. Mas o normal é que seja um professor catedrático a abrir um departamento ou um curso. Mas nós em Portugal atrasámo-nos tanto que não tivemos sequer essas condições, para se proceder como se procede noutros países quando se abre uma nova universidade. De repente passámos de um cenário com poucas universidades para duas dezenas de universidades, e, portanto, os recursos humanos eram pura e simplesmente inexistentes.
Penso que a UBI nesse aspecto foi exemplar. Em 1992, 1993, quando vieram os professores estrangeiros, nomeadamente, polacos, a universidade foi muito criticada porque havia professores que davam as aulas em inglês. Mas hoje em dia, ao olharmos para trás, essa foi a melhor solução. Eram pessoas competentes, altamente qualificadas, que deram um bom contributo à Universidade da Beira Interior. Houve pois a estratégia de ir buscar pessoas qualificadas ao estrangeiro para pôr os novos cursos a funcionar. Aconteceu isso na Engenharia Civil, em cursos de Mecânica, de Aeronáutica, de Matemática. Tivemos e ainda temos aqui gente qualificadíssima e isso deu consistência científica e académica à universidade.
U@O – A UBI continua no bom caminho?
A.F. – Neste momento a universidade está já numa situação muito diferente. Em 1991, os doutorados de carreira eram cerca de duas dezenas. Neste momento temos no corpo docente mais de 150 professores doutorados de carreira.
O que agora se exige é uma estratégia de desenvolvimento de excelente ensino e de boa investigação. Não podemos colocar tudo ou só na investigação ou só no ensino. Devemos apostar nas duas vertentes, no ensino e na investigação.
U@O – E estão reunidas as condições ideais para isso?
A.F. – As condições estão reunidas, sim. Aquilo que nos falta são centros de investigação com um historial de trabalho feito que permita a inserção no contexto internacional. As condições básicas estão criadas, mas precisamos de muito mais. Porque estas condições não se referem apenas à existência de espaços, laboratórios, bibliotecas, e outras estruturas. Essas condições passam essencialmente pela criação de uma cultura, de um ambiente de investigação. E isso é o que demora mais tempo a fazer. As estruturas físicas fazem-se num instante. Essa cultura e esse ambiente de trabalho e de investigação é que não podem ser feitos de um momento para o outro, levam tempo a fazer.
O ensino superior na Covilhã começou em 1975, o ensino universitário em 1980, a Universidade da Beira Interior começou em 1986 e nessa altura, volto a frisar, o número de doutorados era reduzidíssimo. Porque leva muito tempo a fazer doutorados. Mas a questão da investigação ainda é muito mais exigente que a questão de haver ou não doutorados. Ou seja, os doutorados são apenas uma parte necessária, mas não suficiente, para a investigação. Temos as condições necessárias, mas não as suficientes, porque, repito, é fundamental haver uma cultura que tem de se ir criando para se fazer investigação ao mais alto nível.
“O RJIES obriga a maior responsabilização e a mais exigência”
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