Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 398 de 2007-09-18 |
"Os fios que a lã tece"
A Quarta Parede, Associação de Artes Performativas da Covilhã, concebeu um novo espectáculo a partir do universo da lã. "Os fios que a lã tece" é uma representação que nos transporta desde os tempos mais remotos do aparecimento da Covilhã e da indústria de lanifícios até ao presente. Uma produção diferente e inovadora que promete surpreender os espectadores.
> Ricardo MoraisO ambiente e as memórias da indústria de lanifícios da Covilhã são os ingredientes daquela que é a terceira produção da “Quarta Parede”. “Os fios que a lã tece”, tem autoria de Rui Sena e é a principal aposta da Associação de Artes Performativas da Covilhã para os próximos tempos, a par do Festival Y. O espectáculo foi apresentado oficialmente na passada quinta-feira e tem estreia marcada para dia 25.
Sons de teares, do amolador de tesouras e tantos outros, esquecidos no tempo, vão ser trazidos à memória num espectáculo concebido a partir do universo da lã onde os fios são os condutores da história. As estórias que marcaram a região e a vida das pessoas são tecidos neste espectáculo de teatro de objectos.
A produção laneira é o motivo para uma viagem que tem como ponto de partida os “tempos mais remotos do aparecimento da Covilhã e da indústria de lanifícios”. De acordo com Rui Sena, o espectáculo não se trata de um regresso ao passado mas uma forma de projectar o futuro com base nas memórias que as pessoas guardam. “A história da Covilhã e da região está sediada aqui, tem tudo a ver com o universo da lã. O que nós pensamos é que podíamos, a partir desse universo, construir um espectáculo que falasse das pessoas e eu acho que chegamos ao século que não se fala das pessoas, fala-se de números e não se fala do elemento mais importante que são as pessoas e o que me parece é que quando falamos de memórias não estamos só a falar do passado estamos também a projectar-nos no futuro. Eu não vivo a mudança da cidade de uma maneira catastrófica mas há uma base social que mudou radicalmente e se calhar isso mas isso devia servir de exemplo para o bom e para o mau nas coisas que vamos construir no futuro”.
Os “fios” são os condutores da história que marcaram a região e a vida das pessoas. Rui Sena garante que este “não é o primeiro espectáculo que se faz sobre a Covilhã em teatro, mas seguramente é o primeiro espectáculo que em teatro de objectos se faz sobre a Covilhã e a região. O que é importante para nós é que quem venha ver o espectáculo se reveja de algum modo, porque é difícil encontrar uma pessoa que viva na nossa região que não esteja ligada ou tenha um elemento da família que esteve ligado à indústria dos lanifícios. Por outro lado é demonstrar que a partir de uma história contada a partir de uma região se pode fazer um objecto artístico. Porque para além do espectáculo que vai ficar no fim, todos os elementos que vão sendo suspensos ao longo do espectáculo, pensamos que essa instalação é a memória de todos nós”.
O elemento sonoro marca todo o espectáculo e assume especial destaque uma vez que todos os sons foram recolhidos junto dos populares que viveram a realidade da indústria dos lanifícios de perto.
Jeaninne Trevidic, que juntamente com Sílvia Ferreira Marques são as duas actrizes que intervêm no espectáculo, revela como foi interessante descobrir a Covilhã desta forma e como o teatro de objectos pode ser surpreendente. “ Para mim foi uma experiência interessante descobrir a Covilhã desta maneira. Eu fiquei espantada com a quantidade de famílias que trabalhavam com a lã”.
Um espectáculo diferente e inovador que traz à memória os tempos dourados dos lanifícios. O espectáculo estreia a 25 de Setembro às 21h tendo como palco o Museu de Lanifícios (edifício da Real Fábrica Veiga), da Universidade da Beira Interior e prolonga-se até ao dia 29. Um espectáculo a não perder onde como diz o produtor, “o passado apenas se suspende em memórias, mas não obriga a tecer os mesmos caminhos”.
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