Voltar à Página da edicao n. 386 de 2007-06-26
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Segundo o estudo de Ana Catarina Pereira, nos últimos 12 anos o desemprego aumentou de forma galopante

Têxteis com cinco mil desempregados em 12 anos

O resultado de um estudo da autoria de Ana Catarina Pereira evidencia o desemprego galopante nos últimos anos na Cova da Beira e os baixos salários do sector.

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Em pouco mais de uma década, cerca de cinco mil funcionários do sector têxtil nos concelhos da Covilhã, Fundão e Belmonte ficaram sem emprego e 51 empresas encerraram. A maioria na Covilhã onde, entre 1994 e 2006, o desemprego afectou 2750 trabalhadores e 41 fábricas fecham as portas. Este é um dos dados do “Estudo do Tecido Operário Têxtil da Cova da Beira”, uma iniciativa do Sindicato dos Trabalhadores do Sector Têxtil da Beira Baixa e da autoria de Ana Catarina Pereira, natural do Peso.
O documento foi apresentado na tarde da passada segunda-feira. Segundo Luís Garra, presidente da estrutura sindical, com o objectivo de ser um “contributo para quem queira reflectir sobre o passado, presente e futuro desta área de actividade”, onde a documentação não é muita.
Segundo o estudo, o trabalhador têxtil da Cova da Beira é efectivo na empresa, onde trabalha há mais de 20 anos. Vive com o salário mínimo, tem a quarta classe, nunca frequentou um curso de formação profissional dentro da sua área, não tem salários em atraso e, apesar de não ter esperança de progredir na carreira, gosta do que faz, sente-se útil na sua função e tenciona colocar os filhos no Ensino Superior, para lhe dar mais oportunidades.
O retrato resulta de 50 inquéritos feitos à porta de fábricas nos concelhos da Cova da Beira, a empregados entre os 20 e os 61 anos. Ana Catarina Pereira chama a atenção para o facto de nos últimos anos poucos trabalhadores terem entrado para a indústria têxtil. “Reflexo de uma crise prolongada, com todos os encerramentos de fábricas”, salienta.
Dos inquiridos, abordados no último ano, mais de metade (54 por cento) obtinha um vencimento abaixo dos 400 euros, 28 por cento recebia entre 400 e 500 euros e apenas uma pessoa, a única entrevistada com formação superior, auferia mais de mil euros.
A maioria (38 por cento) vive num agregado familiar, de três ou quatro pessoas, com um rendimento global que não ultrapassa os 800 euros.
“Os números relativos ao desemprego no sector são tão dramáticos como significativos e recentes”, realça Ana Catarina Pereira. Mas a autora do estudo acrescenta que a indústria têxtil, desde os seus primórdios, viveu aos solavancos. Com períodos de prosperidade a seguir a épocas de crise, num ciclo. E lembra que “na década de 80, perderam-se quatro mil postos de trabalho na Covilhã”.
Apesar de fazer uma retrospectiva da indústria têxtil na região desde os primeiros tempos da monarquia aos dias de hoje, com referência a figuras importantes para o desenvolvimento do sector, como o terceiro conde da Ericeira ou o Marquês de Pombal, o estudo “não pretende ser a história dos têxteis na Cova da Beira”.
“Se for lido e estudado, já atingimos o nosso objectivo. Se for assumido como objecto de reflexão para a acção, já nos sentiremos bastante recompensados”, sublinha Luís Garra, presidente do Sindicato Têxtil.
O projecto foi financiado pelo Programa Operacional Emprego, Formação e Desenvolvimento Social (POEFDS) e tem uma edição de 500 exemplares. E “como a história não é só feita de heróis”, acentua Ana Catarina Pereira, um dos capítulos é dedicado à história de vida de alguns operários têxteis da Covilhã, que deram o seu testemunho.


Segundo o estudo de Ana Catarina Pereira, nos últimos 12 anos o desemprego aumentou de forma galopante
Segundo o estudo de Ana Catarina Pereira, nos últimos 12 anos o desemprego aumentou de forma galopante


Data de publicação: 2007-06-26 00:00:00
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