Voltar à Página da edicao n. 384 de 2007-06-12
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> <strong>José Geraldes</strong><br />

Os filhos e a vida profissional

> José Geraldes

O Presidente da República, no encerramento do Congresso das Misericórdias, em Braga, alertou o País para a necessidade de “pensar seriamente as políticas de natalidade”. E, em jeito de aviso, referiu o “cenário de envelhecimento e recessão demográfica” que “pela sua dimensão estrutural, não encontra precedentes na nossa história”.
As palavras de Cavaco Silva são oportunas. E a sociedade portuguesa não pode deixar de as assumir com responsabilidade, pois é o futuro de Portugal que está em causa. O Presidente fala de uma realidade que já apresenta contornos dramáticos.
Veja-se. Desde os anos 80 a substituição de gerações não é assegurada entre nós. A taxa de fecundidade da mulher portuguesa é de 1,4, abaixo do nível da União Europeia. O mínimo exigido seria a taxa de 2,1. Assim, 60 por cento dos casais não têm filhos, 24 por cento apenas um e só três por cento têm três ou mais filhos. Nos anos 60, havia em Portugal 2,5 milhões de crianças, em 2005 apenas 1,2 milhões. A não se alterar este estado de coisas, em 2050 a população portuguesa será constituída por três milhões de idosos e apenas um milhão de crianças.
A população imigrante apesar de apresentar uma taxa de natalidade superior à portuguesa não irá resolver o problema, pois é dos livros que a prática segue as normas do país de acolhimento.
Mas os resultados do Inquérito ao Emprego de 2005 divulgados a propósito do Dia Internacional da Família agudizam mais a situação. Além de se confirmar a queda da natalidade, o conceito de família tende a revestir-se de novas formas.
As famílias mono-parentais crescem. Consolida-se o egoísmo dos casais que põem à frente da opção de ter filhos, o conforto e o comodismo. E não se afigura prioritário para os casais com filhos alterar a sua vida profissional para lhes dedicarem mais tempo. Curioso é esta tendência ser especificamente portuguesa, já que nos restantes países da União Europeia é o contrário que se passa. A maioria dos europeus manifesta-se insatisfeita na conciliação entre trabalho e família e gostaria de dispor de mais tempo para dedicar aos filhos.
Menos filhos e menos tempo para tratar deles, eis o retrato da tendências dos portugueses sobre a família. Que fazer ?
Precisam-se políticas adequadas para que as famílias possam cumprir a missão que lhes compete. Nos países nórdicos, há leis que facilitam a vida dos pais para poderem acompanhar os filhos acabados de nascer.
Entre nós já se progrediu mas a licença de maternidade para os pais mas ainda não é o necessário.
Quanto à natalidade, tem havido autarquias a darem incentivos mas os resultados afiguram-se magros. Com a nova lei do aborto, os nascimentos ainda vão diminuir mais.
Se os portugueses não modificam o seu comportamento e mentalidade a este respeito, teremos um país cada vez mais desertificado.
Antigamente, os filhos eram considerados uma bênção, hoje para muitos casais são um sacrifício. Ora é urgente alterar radicalmente esta forma de pensar.
Um filho vale muito mais do que um automóvel topo de gama ou uma vivenda luxuosa ou viagens cujo prazer breve se esvai.
O hedonismo de vida não é estranho a esta situação que vivemos. Dos Estados Unidos sopram novos ventos. A taxa de divórcios desceu para metade nos últimos 30 anos nas mulheres com cursos superiores.
A recomposição da família é fundamental para que ela continue a ser a célula base da sociedade.


Data de publicação: 2007-06-12 00:00:00
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